Por Eshe Nelson e Anooja Debnath.
As chances estão se acumulando contra a libra esterlina para 2016.
Com uma desaceleração do crescimento e a possível realização de um referendo sobre o futuro do Reino Unido na União Europeia já em junho, os traders de opções apresentam a atitude mais baixista frente à libra em mais de seis meses. A moeda já ficou aquém das previsões dos analistas pela maior distância desde 2010 neste ano e as previsões para o final de 2016 não são mais baixas desde a semana da eleição geral em maio.
Depois que o Federal Reserve aumentou as taxas de juros pela primeira vez em quase uma década neste mês, o risco é que a preocupação com que a votação sobre a UE deixe o Banco da Inglaterra (BOE) ainda mais atrás do seu colega americano, o que pesará sobre a perspectiva para a libra. Nos últimos vinte anos, o BOE tendeu a acompanhar o Fed com um lapso de uns três meses, segundo economistas do Deutsche Bank AG. Mas hoje os mercados não precificam um aumento completo das taxas até o primeiro trimestre de 2017.
Uma saída do Reino Unido da UE é uma situação “onde todos perdem” que “poderia adiar um aumento do Banco da Inglaterra”, disse Vincent Chaigneau, diretor global de taxas e estratégia cambial do Société Générale SA em Londres. “Neste contexto, há escopo para que os diferenciais de taxas no curto prazo se ampliem e empurrem o ‘cabo’ para uma queda”, disse ele, em referência à ligação cambial entre a libra e o dólar.
O ágio para as opções de venda da libra esterlina frente à verdinha daqui a três meses alcançou 1,2 ponto porcentual na segunda-feira, o maior valor desde junho, mostram dados sobre reversão de riscos compilados pela Bloomberg. A libra caiu 0,6 por cento para US$ 1.4795 às 13h45, no horário de Londres, depois de recuar para US$ 1.4791, o valor mais fraco desde o dia 15 de abril.
Tendências
O SocGen prediz que a libra cairá para US$ 1,41 por volta do final de setembro, um patamar não visto desde 2009. A previsão média de economistas consultados pela Bloomberg é que a moeda britânica encerre esse mês a US$ 1,52, e a previsão tende para uma queda a partir do começo de novembro.
Mesmo assim, essa divisão mostra que nem todos os estrategistas estão convencidos dos riscos que uma votação sobre a UE apresentaria. A pesquisa mais recente de intenções de voto, publicada na semana passada, descobriu que 45 por cento dos participantes disseram que optariam por permanecer na UE e 38 por cento preferiram uma saída.
Um fator contra a libra é a própria fortaleza. O índice da cotação média ponderada da libra esterlina feito pelo Deutsche Bank subirá neste ano, como fez em todos os anos menos um desde 2010. Em julho, o índice atingiu o nível mais forte em mais de sete anos frente ao euro. Até mesmo o declínio experimentado pela libra neste ano frente ao dólar, que é muito mais forte e se beneficiou pelo aumento das taxas do Fed, é discreto em comparação com o de outras moedas dos países do G10.
Com a inflação quase zerada, bem abaixo da meta de 2 por cento do Banco da Inglaterra, os funcionários mantiveram as taxas do Reino Unido no nível mínimo recorde de 0,5 por cento durante 2015. Um relatório publicado na semana passada mostrou que a economia se expandiu 0,4 por cento no terceiro trimestre, abaixo da taxa revisada de 0,5 por cento nos três meses anteriores.
“No curso dos últimos seis anos, ser altista em relação à libra foi uma das previsões mais fáceis para os analistas”, escreveu Simon Derrick, estrategista-chefe cambial do Bank of New York Mellon Corp. em Londres, em um relatório para clientes publicado na semana passada. “Embora a mudança nas expectativas sobre a trajetória da política monetária no Reino Unido no futuro provavelmente continue sendo a questão dominante para determinar o rendimento da libra nos próximos meses, outros fatores também sugerem que a cautela poderia estar justificada”.
Para ter acesso a notícias em tempo real entre em contato conosco e assine nosso serviço Bloomberg Professional.