Fundos em queda agora esquivam fórum de Davos

Por Javier Blas.

Nos dias do boom das commodities, há alguns anos, os países ricos em petróleo e sua riqueza em petrodólares eram os queridinhos do Fórum Econômico Mundial.

Um painel que incluía representantes dos fundos soberanos de investimentos do Kuwait, da Arábia Saudita e da Rússia foi um dos mais disputados em Davos em janeiro de 2008, pouco antes do aumento dos preços do petróleo para US$ 150 por barril. Era um momento em que os produtores de petróleo acumulavam bilhões de dólares em dívidas e ações, além de imóveis, equipes esportivas e outros ativos considerados troféus. Os gestores dos fundos eram tão influentes que um grupo de presidentes de bancos disseram-lhes a portas fechadas no resort suíço que eles deveriam se tornar mais transparentes, ou correriam o risco de antagonizar com os legisladores norte-americanos.

Agora, com o petróleo abaixo dos US$ 30 por barril, a situação se inverteu. Em vez de comprar títulos do Tesouro americano, lojas de departamento britânicas e times de futebol franceses, os países produtores estão vendendo, o que ajuda a deprimir os mercados, que já estão assustados. Apenas um punhado de chefes de fundos de investimentos deve aparecer no fórum anual dos ricos e poderosos em 2016. E não há nenhum painel dedicado ao tema.

“Eles estão vendendo, estão vendendo muito”, disse Paolo Scaroni, vice-presidente da Rothschild Sons e ex-chefe da maior empresa de petróleo da Itália, a ENI SpA. “A queda forte continuará em 2016, porque os países ricos em petróleo precisam financiar” seus gastos.

No Oriente Médio, na Ásia Central, na África e na América Latina, os governos estão recorrendo às reservas acumuladas durante os bons tempos. Os petrodólares estão sendo investidos em vários locais: fundos soberanos, fundos de estabilização, fundos de desenvolvimento e reservas cambiais nos bancos centrais.

De petrodólares a petrocentavos

Com certeza, os fundos do governo abastecidos por petrodólares continuam sendo uma força influente nas finanças globais, responsáveis por entre 5 por cento e 10 por cento dos ativos globais. As vendas também não são inesperadas: os fundos de estabilização, por exemplo, são projetados para crescer durante os anos de boom e ajudar os governos a manter os gastos durante nas épocas de vacas magras.

No entanto, a magnitude dos declínios surpreendeu muitos que ajudaram os países produtores de commodities a gerir sua riqueza. Arábia Saudita, Catar e Kuwait “estão retirando dinheiro”, disse Alberto Gallo, diretor de pesquisa de crédito macro no Royal Bank of Scotland Plc. “Os petrodólares estão se tornando petrocentavos”.

Gallo está certo: o fluxo bruto de petrodólares na economia global no ano passado caiu para apenas US$ 200 bilhões, em contraste com quase US$ 800 bilhões em 2012, de acordo com o banco.

Embora os ativos dos fundos de investimento não sejam grandes o suficiente para mover os mercados sozinhos, eles podem ter um impacto no sentimento do mercado. O Royal Bank of Scotland disse em uma nota aos clientes neste mês que a queda forte pode reduzir “a demanda por ativos de renda fixa, que eram uma parte significativa dos crescentes investimentos dos fundos soberanos dos principais exportadores de petróleo na última década”.

Os produtores estão exacerbando a crise do mercado global, de acordo com David Zervos, estrategista-chefe da Jefferies LLC, de Nova York. Ao preço do petróleo atual, países produtores de commodities “entraram numa fase em que o excesso de poupança está sendo substituído por um excesso de venda”, disse ele, em uma nota a clientes nesta semana.

Reservas em moeda estrangeira

Os chefes dos fundos estão sob pressão. O diretor do fundo soberano do Cazaquistão foi demitido no início deste mês depois que disse ao The Wall Street Journal que o fundo vai ficar sem dinheiro em sete anos por causa da redução da receita provocada pelo preço do petróleo. A Argélia, um dos principais exportadores de gás natural do mundo, torrou ao longo do último ano as reservas que demorou quase quatro anos para acumular, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

A Arábia Saudita, o maior produtor de petróleo do mundo, é um excelente exemplo da rapidez e da magnitude da reversão: suas reservas em moeda estrangeira caíram mais de US$ 100 bilhões desde meados de 2015, para US$ 635 bilhões, segundo dados da Agência Monetária da Arábia Saudita. A queda é maior do que em 2008-2009, durante a crise financeira global.

Os governos e os gestores de oito países ricos em commodities e seus fundos se recusaram a comentar ou não responderam a nossas perguntas.

Poucos setores foram mais afetados que a gestão de ativos, cujos chefes estão fortemente representados em Davos. Não há previsão de que haja uma reviravolta em breve, disse Martin Gilbert, diretor executivo da Aberdeen Asset Management Plc.

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