Por Fergal O’Brien e Scott Hamilton.
Este é um mundo implacável, segundo o presidente do Banco da Inglaterra, Mark Carney. Mario Draghi provavelmente estaria inclinado a concordar com ele.
Ao injetar bilhões de euros em estímulos na economia a cada mês, o presidente do Banco Central Europeu vê uma expansão contínua na zona do euro e um declínio lento do desemprego. Mas também enfrenta forças externas, como uma desaceleração impulsionada pelos mercados emergentes e uma queda do preço do petróleo que ameaça derrubar a inflação para menos de zero.
Tudo isso se combina em uma perspectiva sombria — a Comissão Europeia acaba de reduzir suas projeções para 2016 — e faz com que Draghi, que tem a incumbência de supervisionar a estabilidade dos preços, estude novamente a aplicação de estímulos poucos meses depois de ter ampliado seus esforços. Embora os dados a serem divulgados nesta semana provavelmente mostrem que a economia da zona do euro cresceu pelo 11o trimestre seguido no final de 2015, o ritmo é modesto e insuficiente para compensar as pressões desinflacionárias globais que afligem a região.
“A demanda doméstica vai bem; é o ambiente externo que não está gerando um grande impulso”, disse Marco Valli, economista-chefe do UniCredit Bank para a zona do euro em Milão. “Isso não vai mudar tão cedo”.
É provável que a região formada por 19 países tenha crescido 0,3 por cento no quarto trimestre, segundo economistas consultados pela Bloomberg. O crescimento em 2015 deverá ser de 1,5 por cento, melhor desempenho de um ano cheio desde 2011.
‘Normal’
Um crescimento desse tipo “precisa ser considerado normal no clima atual”, disse Karsten Junius, economista-chefe do Bank J Safra Sarasin em Zurique. “A zona do euro tem um problema de inflação, não um problema de crescimento”.
Contudo, pode ser difícil até mesmo manter esse ritmo trimestral limitado: a confiança econômica caiu no início do ano e um Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) composto apresentou um quarto mês de baixa em janeiro. O Stoxx 600 Index caiu mais de 13 por cento neste ano e o índice de confiança do investidor Sentix atingiu o nível mais baixo em mais de um ano em fevereiro.
Além da moderação mundial, a zona do euro está enfrentando problemas domésticos, incluindo os altos níveis de dívida em alguns países e a crise dos refugiados. O BCE quer que os governos realizem mais reformas estruturais para ajudar a fortalecer os fatores fundamentais da economia.
Espera-se que bancos centrais como o BCE “façam muito”, disse Mohamed El-Erian, conselheiro econômico-chefe da Allianz e colunista da Bloomberg View, na emissora de televisão da Bloomberg, na sexta-feira. “Os bancos centrais não podem impulsionar a economia por conta própria e nós sabemos que há muitos custos e riscos, danos colaterais, por confiar [essa tarefa] apenas aos bancos centrais”.
Previsão de crescimento
Na quinta-feira, a Comissão Europeia reduziu sua previsão de crescimento para 2016 de 1,8 por cento para 1,7 por cento e disse que Alemanha, França e Itália — as maiores economias da região — terão desempenhos piores que o previsto apenas três meses atrás. A Comissão prevê uma inflação de apenas 0,5 por cento neste ano.
Draghi disse no mesmo dia que há “forças na economia global atualmente que conspiram para manter a inflação baixa”. Carney fez referência a um “ambiente global implacável e a uma turbulência contínua no mercado financeiro”.
Para o BCE, que tem a incumbência de manter a estabilidade dos preços, o desafio é empurrar a inflação novamente para sua meta, de pouco abaixo de 2 por cento. Apesar de a taxa ter subido para 0,4 por cento em janeiro — maior aumento desde outubro de 2014 –, a cúpula do banco prevê que os preços mais baixos do petróleo a derrubem novamente nos próximos meses.
Temendo que as expectativas de inflação possam se descontrolar, desencadeando um ciclo negativo e adiamentos de gastos que reduziriam a demanda, o Conselho Governativo do BCE tem dito que decidirá em sua reunião de 10 de março se será preciso adotar novas medidas.
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