Por Josué Leonel, com a colaboração de Marisa Castellani, Peter Millard e Paula Sambo.
O noticiário está confirmando, pelo lado negativo, o ditado de que no Brasil o ano só começa após o Carnaval. O mais novo golpe veio hoje com o rebaixamento do Brasil pela Moody’s, a única entre as 3 principais agências que ainda não tinha cortado o rating do País para grau especulativo. A questão da solvência da dívida brasileira, embora não seja um receio de curto prazo, entra com mais força no radar do mercado.
Se o Brasil continuar no ritmo atual, ”poderemos estar falando sobre um default soberano” nos próximos anos, disse em entrevista por e-mail James Gulbrandsen, sócio da firma de investimentos NCH Capital. “Os problemas do Brasil são, na verdade, fáceis de resolver: não gaste mais do que você ganha.”
O fato de agora as três agências de rating colocarem a nota do País em perspectiva negativa sugere mais cortes à frente se não houver melhora do cenário, diz Alberto Ramos, economista do Goldman Sachs, em relatório. Segundo Ramos, a estabilização do rating exigiria um ajuste fiscal ”convincente” e reformas estruturais. E neste aspecto, diz o economista, o quadro ”não parece muito promissor”.
Relatório divulgado ontem pelo economista do Goldman também mostrou receio com a dívida brasileira, afirmando que há uma ”percepção crescente” entre investidores e analistas de que o País está em uma trajetória que pode eventualmente levar a uma ”insolvência fiscal no médio prazo”.
Pablo Spyer, diretor da Mirae Asset Wealth Management, prevê uma situação muito grave para o Brasil se a dívida passar de 80% do PIB, como a própria Moody’s diz considerar no relatório divulgado hoje. O fato de alguns países desenvolvidos, como Japão, terem dívidas ainda maiores não serve de consolo, pois estes países têm economias estáveis e praticam juros muito baixos, o que não é o caso do Brasil, diz Spyer. “Enquanto não se resolver o imbróglio político, a situação para o Brasil vai continuar muito complicada.”
Alguns analistas têm manifestado esperança de que um eventual afastamento de Dilma abra espaço a um novo governo que aprove as reformas e devolva ao Brasil uma trajetória sustentável. Esse foi um dos motivos de a Bovespa ter disparado 4,1% na segunda-feira, após a notícia da prisão de João Santana, marqueteiro do PT e da última campanha de da presidente Dilma. Ou seja, a notícia ruim para o governo seria boa para a economia. Embora reconhecendo este efeito positivo, Marcelo Giufrida, sócio da Garde Asset Mgmt, viu exagero no otimismo do mercado, pois uma transição política tende a ser demorada. “O tempo da política é lento”, disse o executivo.
Nicholas Spiro, sócio da Lauressa Advisory, de Londres, mostra ceticismo mesmo em caso de troca de governo. Para ele, o processo de impeachment poderia ser ele próprio negativo para o sentimento dos mercados. ”E o mais importante é que um eventual novo governo também enfrentaria dificuldades para fazer reformas diante da gravidade da crise econômica.”
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