Queda do dólar contraria fundamentos

Notícia exclusiva por Josué Leonel, com a colaboração de Filipe Pacheco.

A queda do dólar, impulsionada este ano pela expectativa de impeachment da presidente Dilma Rousseff, pode ser condizente com a melhora de sentimento do mercado, mas não com uma economia que caminha para o segundo ano seguido de recessão profunda. Para o Goldman Sachs, embora o dólar possa cair ainda mais no curto prazo com a mudança de governo, o câmbio de equilíbrio da economia está entre R$ 3,70 e R$ 4,20.

“O real voltou a ficar sobrevalorizado”, diz Alberto Ramos, economista-sênior do Goldman em Nova York. “A economia está extremamente debilitada. A última coisa que o país precisa neste momento é de um câmbio apreciado.” Para Ramos, a melhora das contas externas ocorrida desde o ano passado reflete mais a recessão, que derruba as importações, do que o efeito do dólar sobre as exportações.
 
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“O mercado está reagindo a uma melhora de sentimento. A perspectiva de mudança de governo traz a esperança de um novo equilíbrio político, mais favorável a uma agenda de reformas”, diz o economista do Goldman. As reformas, segundo Ramos, são cruciais para determinar qual o nível do câmbio de equilíbrio para o país no médio e longo prazo.

O grande paradoxo do Brasil em relação ao câmbio, segundo ele, é que toda vez que há uma melhora de expectativa, como ocorre agora, surge um grande fluxo de capitais, que leva a uma apreciação da moeda. Como a economia é deficiente, com empresas pressionadas por custos trabalhistas, fiscais, burocráticos e de infraestrutura, o exportador não consegue competir, a não ser com uma moeda muito depreciada. O resultado nestes casos de apreciação cambial é uma piora das contas externas, o que acaba por encomendar uma nova crise no futuro.

“Não vai demorar para o exportador reclamar” caso o dólar caia para níveis muito menores com o impeachment, diz Nathan Blanche, sócio-diretor da consultoria Tendências. O câmbio de equilíbrio é de R$ 3,90, necessário para manter o ajuste das contas externas, “a única coisa boa que ocorreu recentemente no país”, diz o consultor. Blanche adverte que, mesmo que Michel Temer assuma o poder com foco em reformas, a melhora dos fundamentos fiscais levará tempo.

Paulo Nepomuceno, estrategista de renda fixa da Coinvalores, considera um valor menor para o câmbio de equilíbrio, de R$ 3,45, desde que haja uma combinação de fatores: a confirmação do impeachment, um cenário externo benigno e menor atuação do Banco Central. “Poderia já estar perto disso se não fossem todas as intervenções recentes do BC”, diz Nepomuceno.

O ideal para um país é ter moeda forte, mas para conviver com isso é preciso que sua produtividade seja elevada, diz Ramos, do Goldman. O economista cita o caso da Alemanha, que era uma potência exportadora mesmo antes da criação do euro, quando sua moeda, o marco, era uma das mais valorizadas do mundo.

Para quebrar a sina do Brasil de precisar de moeda fraca para exportar, o novo governo vai precisar de suporte para aprovar reformas politicamente desafiadoras, como a da Previdência e a trabalhista, afirma Ramos. Além disso, ele considera que o país precisa melhorar a eficiência dos gastos públicos e aprofundar a abertura comercial.

Também é fundamental ter inflação menor. “O Brasil tem inflação de 10%, enquanto muitos de nossos parceiros têm no máximo 2% ao ano.” A alta dos preços torna as exportações brasileiras menos competitivas e faz com que o país precise de um dólar cada vez mais alto para conseguir exportar seus produtos, diz ele. Ou seja, o câmbio de equilíbrio se move para cima junto com a inflação.

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