Fed deixou os pobres mais pobres nos EUA

Por Narayana Kocherlakota.

As políticas do Federal Reserve contribuíram para a desigualdade? Provavelmente sim, mas não da forma como pensam os detratores do banco central americano.

Críticos dos esforços do Fed para sustentar o crescimento econômico argumentam que políticas como juros baixos e compra de ativos mobiliários beneficiaram os ricos de maneira desproporcional. Afinal, essas políticas funcionam ao elevar os preços de ações e títulos, que geralmente estão nas mãos de famílias abastadas. Por mais lógico que pareça, os dados relevantes não mostram isso.

Considere o período de três anos depois de 2010, quando o Fed iniciou a segunda rodada de um programa de compra de títulos elaborado para estimular gastos ao reduzir os juros de longo prazo. O valor dos ativos disparou. O índice Standard & Poor’s 500 subiu cerca de 50 por cento entre novembro de 2010 e o fim de 2013. Se a hipótese de que dinheiro fácil ajuda o rico é verdadeira, a disparidade patrimonial também deveria ter aumentado.

Não foi o que ocorreu. A julgar pela Pesquisa de Finanças do Consumidor 2013, os ricos não se deram particularmente bem. De 2010 até 2013, a família típica na faixa dos 10% mais ricos viu seu patrimônio diminuir 6,3 por cento — queda maior do que para a família típica em quase qualquer subgrupo dos mais pobres, embora as diferenças não tenham sido tão grandes.

O quadro foi bem diferente entre 2007 e 2010 – período durante o qual a crise financeira global e a recessão associada a ela tiveram grande impacto. O patrimônio de uma família típica nos três-quartos inferiores da pirâmide de renda diminuiu bem mais do que o patrimônio das famílias entre as 10% mais ricas. Isso se deu em parte por causa da alavancagem: famílias com menos recursos costumavam ter proporcionalmente mais dívida por ativos, portanto uma queda nos ativos se traduzia em diminuição percentual bem maior no patrimônio líquido. Mesmo avaliando somente os ativos, as famílias mais pobres sofreram perdas maiores.

O que estava por trás do aumento da desigualdade? Não foram as medidas do Fed para impulsionar os mercados de imóveis residenciais ou ações, que caíram acentuadamente de 2007 até 2010. Na verdade, parece que os pobres estariam em condições melhores se o Fed tivesse feito mais para sustentar os preços dos ativos – e principalmente os preços dos imóveis residenciais. Ou seja, a desigualdade aumentou porque a política monetária foi muito rígida, não porque foi muito relaxada.

De todo modo, os americanos deram passos para trás em termos de capacidade econômica e as famílias mais pobres perderam mais. Especificamente, a família típica entre os 50% mais pobres estava pior em 2013 do que em qualquer outro ano estudado na Pesquisa de Finanças do Consumidor, que vem desde 1989.

Não surpreende que famílias mais pobres nos EUA tenham a impressão de que o Fed fez mais pelos bancos durante a crise financeira e a recessão do que por elas. A queda do patrimônio significa que essas pessoas têm menos condições de se preparar para a aposentadoria, se proteger de choques adversos ou usar poupança para pagar por bens e serviços. Esse aumento da desigualmente pode afetar a vida econômica e política dos EUA por anos a fio.

Esta coluna não reflete necessariamente as opiniões do conselho editorial da Bloomberg LP ou seus proprietários.

A Pesquisa de Finanças do Consumidor coleta dados detalhados de uma amostra de mais de 6.000 famílias dos EUA a cada três anos.

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