Por Gerson Freitas Jr. e Tatiana Freitas, com a colaboração de Fabiana Batista.
A retração do crédito no Brasil chegou ao agronegócio.
O oferta de crédito bancário aos produtores rurais deve encolher 9,1 por cento em termos reais na safra 2016-17, segundo revisão do Plano Agrícola e Pecuário divulgada pelo Ministério da Agricultura em 1º de julho. Ao todo, os bancos públicos e privados deverão disponibilizar R$ 185 bilhões na safra que começou oficialmente neste mês, ante R$ 187,7 bilhões na temporada anterior. Trata-se da primeira contração desde pelo menos a safra 2002-03.
O recuo dos bancos deve levar fornecedores de insumos agrícolas a ampliar, por conta própria, o crédito aos produtores. Esse financiamento normalmente é feito por meio de operações de barter: os fornecedores oferecem fertilizantes e produtos químicos aos produtores rurais antes do plantio e recebem parte da colheita como pagamento, meses depois. “Com o crédito mais escasso, as fornecedoras de insumos agrícolas têm sido obrigadas a financiar seus clientes”, afirma Daniel Magalhães, sócio da RB Capital, de São Paulo.
O crédito da indústria ao produtor é frequentemente financiado por meio da emissão de Certificados de Recebíveis Agrícolas, ou CRAs. Os certificados, que são vendidos a investidores do varejo por meio de empresas de securitização, são lastreados pela produção que os agricultores ofertam como pagamento.
É o caso da americana Mosaic. A produtora de fertilizantes planeja levantar até R$ 300 milhões (US$ 91 milhões) com uma oferta de CRAs, disseram duas pessoas com conhecimento direto do assunto. Os recursos devem ser usados para financiar clientes.
Aproximadamente R$ 1,5 bilhão em novos CRAs estão em fase de elaboração, e a maior parte deve ser emitida por empresas que buscam oferecer financiamento aos produtores, afirma Magalhães. Só neste ano, as emissões de CRAs já atingiram R$ 5,4 bilhões, superando o total de 2015.
Em março, a fabricante de químicos Bayer CropScience levantou R$ 107 milhões com a venda de CRAs.
“Com o recuo dos bancos, precisamos encontrar alternativas”, disse Paulo Soares, gerente da Bayer. “As operações de barter ganham força em períodos de incerteza e de restrição de crédito”.
O Brasil é o maior exportador mundial de soja, carne bovina, café, açúcar e suco de laranja. O setor agrícola responde por cerca de 20 por cento do produto interno bruto e por 40 por cento das exportações.
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