Por Tracy Alloway.
Há uma discrepância crescente nos mercados globais.
Apesar de ativos de risco, entre eles as ações, terem disparado após o eleitorado britânico optar por sair da União Europeia em uma votação histórica, os títulos soberanos também tiveram um rali; duas coisas que deveriam sugerir perspectivas diferentes para o crescimento econômico. O aumento dos preços dos títulos levaram os yields das dívidas soberanas, consideradas um refúgio seguro, a novos recordes negativos, mesmo em um momento em que as expectativas de uma flexibilização da política monetária estão produzindo uma explosão de “espíritos selvagens” nos mercados de ações.
A fuga para ativos seguros levou alguns analistas a questionarem o caráter duradouro do rali das ações, onde o S&P 500 subiu 3,5 por cento na semana passada e o FTSE 100 reverteu a queda provocada pelo referendo – pelo menos em moeda local. Contudo, outros dizem que o dinheiro está fluindo para as ações porque a queda dos yields dos títulos obriga os investidores a procurarem retornos em outros tipos de ativos.
Entre os movimentos recorde registrados no mundo da dívida soberana na semana passada estavam os novos valores mínimos a que chegaram os yields dos títulos do Tesouro dos EUA com vencimento em 10 e 30 anos. Os yields espanhóis também bateram um recorde negativo e os yields da totalidade do mercado suíço de títulos soberanos se tornaram negativos na sexta-feira.
Enquanto isso, uma medição do Federal Reserve (Fed) de Nova York do prêmio de prazo de dez anos – um indicador do suposto grau de risco da dívida com vencimentos mais distantes – caiu para -0,66 por cento, eclipsando o recorde mínimo histórico registrado pela última vez quando Bob Dylan lançou seu primeiro álbum.
As expectativas de inflação derivadas dos títulos americanos estão caindo exatamente quando as ações estão dando um salto, o que sugere uma “desconexão perigosa” entre taxas de juros e ações, segundo analistas da TD Securities. “Acreditamos que o mercado acionário esteja sendo complacente a respeito do derrame de crescimento decorrente do choque de incerteza causado pelo Brexit, mas ainda precifica uma flexibilização da política monetária. Além disso, as expectativas de que não ocorra um Brexit apesar do triunfo dessa opção no referendo ou de que a UE ofereça um bom acordo parecem otimistas. O crescimento global deveria ser afetado por uma recessão no Reino Unido – a quinta maior economia do mundo”, escreveram analistas da TD Securities dirigidos por Priya Misra.
Diferencial
O diferencial entre o yield das notas do Tesouro dos EUA com vencimento em 10 anos e dois anos diminuiu imediatamente após o referendo do dia 23 de junho, ampliou-se brevemente e agora está se reduzindo novamente porque os investidores continuam recorrendo à dívida do governo americano, percebida como segura. Um modelo administrado por Steven Zeng, do Deutsche Bank, que ajusta o diferencial às taxas de juros no curto prazo em patamares historicamente baixos, sugere que a curva de yields agora aponta uma probabilidade de 60 por cento de ocorrer uma recessão nos EUA nos próximos 12 meses, frente a uma probabilidade de 55 por cento em meados de junho. São as maiores possibilidades implícitas desde agosto de 2008.
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