Por Javier Blas.
Quando os preços das commodities despencaram, no fim de 2014, os executivos do setor de petróleo ainda podiam olhar para seus colegas da mineração com alguma superioridade.
Na época, as maiores petroleiras do mundo mantinham balanços relativamente fortes, com poucos empréstimos em relação ao valor de seus ativos. As mineradoras amargaram a queda dos preços em um estado muito diferente e algumas das maiores empresas do mundo — Rio Tinto, Anglo American e Glencore — tiveram que reduzir dividendos e realizar cortes de gastos draconianos para controlar suas dívidas.
Dois anos depois, os executivos da mineração podem ser desculpados por se sentirem orgulhosos. Como o petróleo é negociado bastante abaixo de US$ 50 o barril, a Exxon Mobil, a Royal Dutch Shell e outras gigantes do setor viram suas dívidas dobrarem, para um total combinado de US$ 138 bilhões, gerando a preocupação de que precisarão continuar reduzindo as despesas de capital e de que pode vir a ser necessário cortar dividendos.
E o pior é que essa montanha de dívida, que se multiplicou por dez desde 2008, provavelmente aumentará ainda mais no terceiro e no quarto trimestres, segundo executivos e analistas.
“A dívida poderá subir antes de começar a cair”, disse o diretor financeiro da Shell, Simon Henry, a investidores na semana passada. “E o principal fator é o preço do petróleo”.
O maior temor é o fato de as empresas, até o momento, não terem conseguido interromper o aumento da dívida, disse Harold “Skip” York, vice-presidente de energia integrada da consultoria Wood Mackenzie em Houston, nos EUA.
“O semáforo da dívida está no amarelo”, disse ele. “Na ausência de um aumento do preço do petróleo ou de vendas consideráveis de ativos, os compromissos de manter o dividendo enfrentarão uma pressão ainda maior”.
O problema das grandes petroleiras é simples: as empresas estão gastando muito mais do que arrecadam. O West Texas Intermediate e o petróleo Brent, os dois tipos de petróleo de referência de maior destaque, entraram em bear markets nesta semana após caírem mais de 20 por cento desde o início de junho.
Os resultados do primeiro semestre indicam que as petroleiras “provavelmente gerarão grandes fluxos de caixa livre negativos no ano”, disse Dmitry Marinchenko, diretor associado da Fitch Ratings em Londres.
Os níveis de dívida atualmente estão subindo a uma taxa anual de 11,5 por cento, mais que o dobro dos 5,1 por cento vistos entre 2009 e 2014, disse Virendra Chauhan, analista de petróleo da consultoria Energy Aspects em Cingapura.
“Embora os mercados de crédito tenham sido expansivos e acessíveis durante este período, as preocupações dos investidores em relação à sustentabilidade dessa tendência são válidas”, disse ele.
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