Por Jonathan Levin.
Não foi perfeito, mas o Rio de Janeiro conseguiu realizar as Olimpíadas.
As preocupações foram muitas, mas os problemas que afetaram atletas e turistas foram relativamente pequenos. Uma piscina ficou verde. Algumas competições estavam com a maioria das cadeiras vazias. Visitantes foram assaltados, mas o relato mais impressionante – quatro nadadores dos EUA retirados do táxi e roubados a mão armada – se provou ter sido inventado. E quanto à paranoia em relação ao vírus zika, vai demorar para saber se algum turista contraiu a doença durante o evento.
Para muitos cariocas, a cerimônia de encerramento no domingo sinalizou a volta ao ambiente de alta criminalidade e recessão econômica. Ficou para trás o enorme investimento em infraestrutura e no setor hoteleiro, que colaborou para atenuar o efeito do avanço do desemprego no País. Os 85.000 soldados e policiais que estavam no Rio para as Olimpíadas eventualmente voltarão a seus postos originais.
“Assaltos a atletas famosos – reais ou imaginários – foram de várias formas distração para muitos de nós que vivemos aqui da história real”, disse Robert Muggah, analista de segurança do Instituto Igarapé.
Choque de realidade
Embora a taxa de homicídios na cidade esteja baixa quando comparada com uma década atrás, a violência vem aumentando nas favelas e crimes menos graves estão mais frequentes das praias de Copacabana até o centro histórico. O próximo prefeito e o governador enfrentam decisões difíceis quanto ao programa de pacificação das comunidades e acusações de abuso da força policial.
Em 2009, quando a cidade ganhou o direito de sediar os jogos, esperava-se que as Olimpíadas mostrassem a ascensão do Brasil como potência econômica. Muita coisa mudou de lá para cá. A economia entrou em colapso e os ganhos em termos de segurança e redução de pobreza foram parcialmente eliminados. Ainda assim, contrastando com o ocorrido em outras cidades-sede, as instalações e a infraestrutura necessárias para os jogos ficaram prontas a tempo e com pouco drama, exceto pela linha de metrô inaugurada apenas dias antes da abertura do evento.
“Essas melhorias na infraestrutura do Rio de Janeiro eram desesperadamente necessárias”, disse o presidente do Comitê Olímpico Internacional, Thomas Bach, no sábado. “Tudo isso criou milhares e milhares de empregos. Imagine como estaria o Rio sem este programa de desenvolvimento de longo prazo.”
Um estudo publicado por Marcelo Neri, economista da Fundação Getúlio Vargas que foi ministro da presidente afastada, Dilma Rousseff, também elogiou o impacto desses investimentos. Uma das conclusões mais importantes de Neri foi que a renda real das famílias apresentou ganhos desproporcionais nos sete anos que antecederam as Olimpíadas.
‘Erro estratégico’
Já James P. Moore, Jr., diretor-gerente da Iniciativa de Negócios, Sociedade e Políticas Públicas da Escola de Administração McDonough, de Georgetown, afirma que é cedo demais para se chegar a esta conclusão.
“Minha previsão é que o Rio será visto como erro estratégico”, afirmou Moore por e-mail. “Não será consenso universal, mas, por anos, eu garanto que dará aos países em desenvolvimento muito o que discutir sobre o princípio de cuidado com o que se deseja.”
Por exemplo, a distribuidora de eletricidade Light solicitou a revisão das tarifas cobradas de consumidores residenciais em parte por causa de investimentos motivados pelas Olimpíadas.
Perguntas importantes ficam no ar após o fim dos jogos, que renderam ao Brasil um número recorde de sete medalhas de ouro. O comitê organizador da Rio 2016 enfrenta um buraco no orçamento que afetará a execução de suas últimas responsabilidades, relativas à realização dos Jogos Paralímpicos a partir de 7 de setembro. O comitê tenta cobrir o rombo com recursos públicos em nível federal e local e junto a patrocinadores do setor privado. Parte do orçamento operacional vem da venda de ingressos e Mário Andrada, um porta-voz da Rio 2016, afirma que foram vendidos somente 12 por cento dos ingressos para as provas da Paralimpíada.
Outra questão é o destino do gigantesco Parque Olímpico, na Barra. O governo diz ter um plano para transformá-lo em parque e área de treinamento, mas muitos questionam a utilidade de algumas instalações, como o velódromo, nos próximos anos.
Quanto à Olimpíada realizada entre 5 e 21 de agosto, o prefeito Eduardo Paes receberá elogios por sua execução e isso ajudará seu futuro político, de acordo com Thiago de Aragão, sócio e diretor de estratégia da consultoria de risco político Arko Advice. Na sexta-feira, Paes declarou ter certeza de que foi bom trazer os jogos para o Rio e disse que o comitê organizador fez um “trabalho fantástico”.
“Vai ser ser visto como um sucesso para ele”, afirmou Aragão em entrevista por telefone de Brasília. “No entanto, esses dias de sucesso e alegria, eles de certa forma são uma ilha dentro de um ambiente de problemas de segurança pública, de problemas gravíssimos.”
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