Por Michelle Jamrisko.
Uma frase do discurso de Janet Yellen, presidente do banco central americano (Federal Reserve), que recebeu pouca atenção na semana passada pode ser a chave para entender se o relatório sobre o mercado de trabalho, que será divulgado na sexta-feira, selará o aumento da taxa básica de juros neste mês.
Embora o foco tenha ficado na frase de Yellen de que a justificativa para um aumento de juros “se fortaleceu nos últimos meses”, ela também acrescentou que as decisões do banco central dependem do quanto os dados “continuem confirmando” a perspectiva. Este comentário e outras falas recentes de colegas dela no Fed sugerem que a criação de empregos precisa ser apenas sólida – e não extraordinária – para garantir a elevação dos juros pela primeira vez no ano.
Após eventos globais e a fraca geração de vagas em maio terem atrapalhado os planos de aperto monetário pelo Fed, a criação de empregos disparou em junho e julho. O Departamento do Trabalho divulga o relatório de agosto na sexta-feira. Economistas projetam ganho líquido de 180.000 postos, dentro da média de 2016. Este resultado fortaleceria evidências de que a economia está mais firme e que os salários vão subir mais rapidamente, que é o contexto que alguns representantes do Fed aguardam.
“A menos que a decepção seja enorme, o ponto de corte do Fed parece bem baixo”, disse Laura Rosner, economista sênior para os EUA do BNP Paribas, em Nova York. A linguagem de Yellen “dá a impressão de que os indicadores e os dados já são consistentes com a perspectiva e que eles querem que essa confirmação continue. Então, não significa que é preciso haver aceleração muito além do que temos observado.”
Em julho, foram criados 255.000 empregos. A projeção mediana de pesquisa da Bloomberg aponta para queda da taxa de desemprego de 4,9 por cento em julho para 4,8 por cento em agosto.
Reunião de setembro
Yellen e seus colegas deixaram a porta aberta para elevação da taxa básica de juros na reunião de 20 e 21 de setembro, sem dar um sinal explícito de que provavelmente tomarão essa decisão. Os contratos futuros mostram chance aproximada de um em quatro de acréscimo. Uma alta dos juros no fim do ano é considerada mais provável.
A elevação dos juros também pode depender de métricas como crescimento de salários e ociosidade no mercado de trabalho, que também fazem parte do relatório que sai na sexta-feira. Ainda há possibilidade de as autoridades ressaltarem a inflação lenta, o fraco investimento das empresas e as perspectivas globais incertas para justificar a manutenção dos juros.
Mesmo no caso da criação de empregos, o Fed ainda pode argumentar que o cenário é bom o suficiente se aproximadamente 100.000 vagas forem geradas, já que é isso que é necessário para acompanhar a expansão da força de trabalho, disse Scott Brown, economista-chefe da Raymond James Financial Inc. em St. Petersburg, na Flórida. O responsável pelo escritório regional do Fed em São Francisco, John Williams, declarou em discurso recente que apenas 80.000 vagas mensais são necessárias para lidar com o aumento do número de americanos disponíveis para trabalhar.
Ainda assim, a criação de 100.000 empregos seria o segundo pior resultado mensal desde o começo de 2015. O economista-chefe da PNC Financial Services Group Inc., Stuart Hoffman, entende que o limite do Fed é mais próximo de 200.000 vagas ou depende da concretização de revisões substanciais para cima nos números de emprego apurados nos últimos meses. A PNC só espera aumento dos juros em dezembro.
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