Por Josué Leonel com a colaboração de Marisa Castellani, Patricia Lara e Marco Maciel.
O mercado entra na reta final das apostas para o Copom colocando um pouco mais de fichas em um corte de 0,50 ponto percentual da Selic, embora a expectativa majoritária ainda seja de uma redução mais discreta, de 0,25 pp. Os juros futuros caem na BM&F, refletindo a percepção de que o sinal está verde para o Banco Central começar hoje a reduzir a taxa Selic, que está em 14,25% desde julho de 2015.
Um corte menor, segundo os defensores de uma decisão mais conservadora do BC, favoreceria mais as expectativas inflacionárias de longo prazo. Para os defensores de um corte maior, contudo, a queda já registrada pela inflação, aliada a uma economia deprimida, ao progresso inicial das reformas e ao próprio fato de os juros reais brasileiros serem muito elevados, permite uma redução de meio ponto percentual, sem risco para a credibilidade do BC.
“Este banco central não tem qualquer problema de credibilidade. A sua comunicação vem sendo muito transparente”, diz Carlos Kawall, economista do Banco Safra, que espera um corte de 0,50 pp da Selic. Ele lembra que os dados de vendas no varejo, divulgados ontem, e o do setor de serviços, anunciado hoje, vieram abaixo do esperado, sinalizando que a recessão deve prosseguir por mais tempo que o mercado previa.
Além da economia no chão, a inflação também tem recuado e ajuda a alimentar as apostas em corte da Selic. O próximo relatório do BC deve mostrar um IPCA mais perto da meta de 4,5% em 2017, segundo Kawall. Mesmo em 2016, é possível que o índice fique abaixo de 7%, o que seria impensável alguns meses atrás. A possibilidade de aprovação rápida da PEC do teto e a mudança no sistema de preços da Petrobras também ajudam a melhorar as expectativas, diz o economista do Safra.
Fernando Honorato, do Bradesco, também não vê qualquer chance de o mercado reagir mal ao corte de juros, dada à credibilidade do BC e ao fato de os fundamentos serem compatíveis com juros menores. O economista prevê redução de 0,50 pp e considera que o ciclo total de corte da taxa poderá ser maior do que o mercado espera caso a economia continue demorando para se recuperar. “O desemprego está muito alto e as famílias e as empresas estão reduzindo o endividamento”, diz Honorato sobre os dados recentes de atividade, que decepcionaram o mercado.
Existe um “grande alinhamento de fatores” em favor de um corte de juros, diz Leonardo Monoli, sócio-diretor da Jive Investimentos. Na eventualidade de adotar um corte de 0,25 pp, como a maioria dos analistas espera, o BC poderia usar uma linguagem mais branda, deixando a porta aberta para cortes maiores nas próximas reuniões. Contudo, como as condições permitem, o BC deve fazer um corte de 0,50 pp já, com um comunicado moderado, diz Monoli. “Isso traria muito mais previsibilidade.”
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