Por R.T. Watson e David Stringer.
Durante anos, a brasileira Vale disputou com produtoras de minério de ferro rivais da Austrália o abastecimento da indústria siderúrgica da China, que se expandia rapidamente, construindo mais minas e ampliando a produção. Mas a desaceleração da demanda e as perspectivas de vários anos de excedente de oferta estão mudando as frentes de batalha. Agora, o objetivo principal é proteger as margens de lucro, cada vez menores.
O desafio da Vale é que suas minas estão a mais de 13.000 quilômetros mais distantes da China do que as de suas concorrentes australianas Rio Tinto e BHP Billiton. Isso significa que os carregamentos da Vale são mais caros em um momento em que os preços do minério são a metade do que eram dois anos atrás. Após um prejuízo recorde de US$ 13,5 bilhões no ano passado, a companhia brasileira está investindo em reservas de qualidade superior e em tecnologia avançada para eliminar a diferença de custos.
Isso não será fácil. A Vale está produzindo uma quantidade recorde de minério de ferro, que responde por mais de metade de sua receita. Embora as operações sejam rentáveis em 2016, os lucros cairão no ano que vem, segundo analistas consultados pela Bloomberg. Após assumir uma dívida enorme quando os preços das commodities estavam em ascensão, o presidente Murilo Ferreira está vendendo ativos e apostando que será capaz de otimizar as operações o bastante para reduzir os custos de produção em 2018 a US$ 10 a tonelada, ou cerca de metade do patamar de 2014.
“Esse é o princípio, essa luta por um minuto”, disse Humberto Freitas, diretor-executivo de logística e pesquisa mineral da Vale, em entrevista, no Rio de Janeiro. “Porque não é aquele minuto. É a soma de um minuto em seis mil vagões. Quando você fala em um minuto você está falando de muito dinheiro.”
Queda do preço
Há cinco anos os custos não eram problema. Os preços das commodities estavam subindo, com o minério de ferro perto de US$ 200 a tonelada, e as produtoras tinham dificuldade para acompanhar o ritmo da demanda da China. Mas à medida que novas minas foram sendo exploradas, a oferta superou a quantidade necessária para as siderúrgicas. Desde então, o preço do minério caiu, chegando a US$ 59 nesta semana. Com o excedente global, os preços provavelmente ficarão estagnados em torno de US$ 50 até 2018, segundo estimativa média dos analistas consultados pela Bloomberg.
“Nós temos uma diferença negativa em relação aos australianos que é distância”, disse Freitas. Segundo ele, a companhia tem que ganhar em eficiência, e porque a qualidade do minério de ferro da Vale é melhor, “nosso custo é menor que o deles, o custo colocado no navio”.
As produtoras da região de Pilbara, na Austrália, tentarão defender sua vantagem no custo de transporte em relação à Vale, disse Nev Power, CEO da Fortescue Metals, quarta maior fornecedora do mundo. O preço de equilíbrio da exportadora está atualmente entre US$ 28 e US$ 30 a tonelada, com custos de caixa de cerca de US$ 13,55 a tonelada úmida, disse Power.
“Como a viagem marítima deles é mais de três vezes mais longa que a nossa, eles estão muito mais expostos aos aumentos das tarifas de navegação e dos preços do petróleo”, disse Power. “Nós temos a intenção de manter essa nossa vantagem.”
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