Por Olga Kharif.
As instituições financeiras superaram certa apreensão inicial em relação à privacidade e cada vez mais avaliam a solvência dos consumidores utilizando dados de empresas telefônicas sobre padrões e locais das ligações feitas por celular.
Para os credores, essa prática é tentadora porque poderia ajudá-los a chegar até parte dos 2 bilhões de pessoas que não têm contas bancárias. Por outro lado, alguns dados telefônicos correm o risco de serem usados para discriminar potenciais mutuários.
Operadoras de telefonia e bancos ganharam confiança na utilização de dados de celulares para conceder empréstimos após verem o sucesso inicial de startups com o método nos últimos anos. A venda desses dados poderia gerar mais de US$ 1 bilhão por ano para as companhias telefônicas dos EUA nos próximos dez anos, segundo a Crone Consulting.
A Fair Isaac, cujas pontuações FICO são as notas de crédito mais utilizadas do mundo, formou parceria no mês passado com as startups Lenddo e EFL Global para utilizar informações de celulares a fim de ajudar a conceder empréstimos a pequenas empresas e indivíduos na Índia e na Rússia. Na semana passada, a startup Juvo anunciou que está trabalhando com a Cable & Wireless Communications, da Liberty Global, para ajudar na pontuação de crédito com dados de celulares em 15 mercados caribenhos.
Os novos métodos de avaliação de crédito poderiam permitir que mais pessoas em áreas sem agências bancárias abram contas on-line. Eles também poderiam tornar cartões de crédito e empréstimos mais acessíveis e prevalentes em algumas regiões do mundo. Antes, os credores recorriam principalmente a informações bancárias, como poupanças e o pagamento de empréstimos anteriores, para decidir se autorizariam alguém a contrair um empréstimo.
Na maioria dos casos, os consumidores devem autorizar o acesso a seus registros de telecomunicações como parte da avaliação de risco. Um dos motivos pelos quais o setor de risco de crédito demorou para fechar acordos com as empresas telefônicas ou seus representantes são as negociações sobre como proteger melhor a privacidade do cliente.
“O modo como você usa seu celular representa sua forma de vida”, disse Jonathan Hakim, CEO da startup Cignifi. “Nós captamos um espelho da vida do cliente”.
A empresa dele compila dados telefônicos — como para quem o possível mutuário liga e com que frequência — de parceiros como a telefônica Airtel Ghana e destrincha-os para clientes como a Equifax, a empresa de pontuações de crédito, e comerciantes. A empresa classifica cerca de 100 milhões de clientes em dez países a cada mês, disse Hakim. Normalmente, os bancos utilizam essas avaliações com outras análises para decidir se concederão um empréstimo. A Cignifi sempre obtém permissão dos clientes para utilizar dados, disse ele.
“O mercado está mudando”, disse Richard Eldridge, CEO da Lenddo. “Cada vez mais pessoas veem exemplos no mundo inteiro sobre como dados não tradicionais podem ser utilizados para entrar em novos segmentos do mercado que não podiam ser atendidos antes”.
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