A China se prepara para apertar o cerco às companhias americanas, caso o presidente eleito Donald Trump tome medidas punitivas contra produtos chineses e desencadeie uma guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo quando assumir o cargo, segundo pessoas com conhecimento do assunto.
Uma das opções seria sujeitar empresas americanas conhecidas ou companhias com grandes operações na China a investigações tributárias ou antitruste, afirmaram as pessoas, que pediram anonimato porque a questão não é pública. Também podem ser aplicadas medidas como o início de investigações antidumping e a redução das compras de produtos americanos pelo governo chinês, disseram as fontes.
O quadro ilustra como o aumento das tensões entre os dois países pode afetar o setor privado. A China foi alvo frequente dos ataques de Trump. Ele nomeou autoridades a postos comerciais que, segundo o jornal Global Times, do Partido Comunista, formariam uma “cortina de ferro” de protecionismo.
Qualquer retaliação chinesa contra Trump implicaria riscos. A China pode prejudicar o acesso a seu maior parceiro comercial, disse Michael Every, responsável por pesquisa de mercados financeiros na Rabobank Group, em Hong Kong.
“Quando um país com um grande déficit comercial retalia contra um país que tem grande superávit comercial com o mesmo, é o país com o déficit comercial que vence”, explicou Every. “O país com o superávit perde, toda vez.”
O déficit comercial dos EUA com a China encolheu para US$ 31,1 bilhões, vindo de US$ 32,5 bilhões em outubro. Segundo os dados mais recentes, as exportações americanas para a China estão no maior patamar desde dezembro de 2013. Nos 10 meses até o fim de outubro, o déficit comercial somou US$ 288,78 bilhões.
Disputando quem é mais corajoso
O governo central da China compilou as possíveis respostas após reunir opiniões de diversos departamentos, disseram as fontes. As medidas punitivas só serão implementadas se os EUA agirem primeiro e depois que importantes líderes derem aprovação, informaram.
Representantes do Ministério do Comércio, da Comissão de Desenvolvimento Nacional e Reforma, do Escritório Estatal de Tributação e do Escritório Geral de Alfândega não retornaram solicitações de comentário da reportagem. Representantes da equipe de transição de Trump também não deram retorno.
No final do ano passado, a China multou a General Motors, segunda maior montadora estrangeira no país, em quase US$ 30 milhões por violações antitruste. A empresa foi acusada de definir preços mínimos para alguns modelos fabricados pela joint venture SAIC General Motors. Na ocasião, a GM declarou que respeita a legislação local e que daria apoio total a seu empreendimento na China para garantir que todas as medidas adequadas fossem tomadas.
Há muito em jogo. A Rhodium Group estima que companhias multinacionais despejaram mais de US$ 228 bilhões na China desde 1990. Grupos empresariais dos EUA tradicionalmente enfrentam Washington quando se trata de questões comerciais com a China. Na década de 1990, empresas como Boeing, Motorola e American International Group (AIG) fizeram lobby na batalha anual para renovar o status de favorecimento da China, que permitiria a entrada de exportações chinesas com tarifa baixa. Em 2011, associações representantes de gigantes como Microsoft e Wal-Mart Stores fizeram lobby contra leis que pressionariam a China a valorizar sua moeda.
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