Por Mark Buchanan.
Os seres humanos de fato agem de forma racional ou histórias e rumores podem desviar completamente a trajetória de uma economia? Ultimamente, economistas estão reconhecendo cada vez mais que as histórias importam.
No início da década de 1920, os Estados Unidos sofreram uma retração econômica extremamente forte, na qual a inflação virou rapidamente deflação e as relações preço/lucro caíram para os níveis mais baixos em 50 anos. Os economistas Milton Friedman e Anna Schwartz, no livro “Monetary History of the United States”, culparam um inexperiente Federal Reserve, que havia elevado abruptamente a taxa de desconto em 1 ponto percentual.
Em um discurso recente, o economista Robert Shiller, da Universidade Yale, ofereceu outra explicação. Circulavam rumores de que a revolução comunista na Rússia em breve chegaria aos EUA, e os jornais alertavam que a especulação associada à Primeira Guerra Mundial daria lugar em pouco tempo à queda dos preços. Portanto, é plausível, segundo Shiller, que esta e outras narrativas espalhem incertezas econômicas, desestimulando o gasto entre consumidores e os investimentos entre empresas.
Shiller tem argumentos semelhantes sobre a Grande Depressão e a crise financeira de 2008. Nos anos 2000, histórias sobre pessoas ficando ricas com a especulação imobiliária contribuíram para a crença de que os preços dos imóveis estariam sempre em alta. A indústria financeira desempenhou um enorme papel ao catalisar a epidemia de opiniões e explorá-la para seus próprios fins. Mas os banqueiros não poderiam criar a bolha sem a ajuda dos mutuários de hipotecas que acreditaram na narrativa.
Shiller é um dos poucos economistas a levar a sério há muito tempo o papel do “instinto animal” na condução da opinião de massa. A diferença em seu trabalho — o que ele chama de “economia da narrativa” — é a ideia de que as histórias se movem mais ou menos como agentes infecciosos, alguns muito mais contagiosos que outros, e que uma abordagem epidemiológica pode ajudar a entender melhor esses movimentos. Os dados para isso estão começando a se tonar disponíveis — por exemplo, a partir da análise de texto dos feeds de notícias e redes sociais.
O estudo de Shiller ilustra um argumento mais abstrato apresentado recentemente pelo sociólogo Jens Beckert, do Instituto Max Planck para o Estudo das Sociedades. Os economistas normalmente pressupõem que as expectativas racionais guiam o comportamento humano, mas Beckert argumenta que as pessoas operam com “expectativas fictícias” — suposições informadas sobre o futuro que se baseiam, em parte, nas narrativas predominantes e na crença de outros. As pessoas não são nem racionais nem irracionais, mas algo no meio-termo. Elas aprendem o que podem do mundo social ao redor, embora às vezes sejam induzidas ao erro como resultado. A ideia de “aprendizagem social” é comumente estudada pela biologia, mas tem sido amplamente negligenciada pela economia.
Estas são perspectivas acadêmicas sobre ideias que há muito tempo andam por aí. O ex-analista de Wall Street Robert Prechter, por exemplo, publicou uma série de livros perspicazes — mais recentemente, “The Socionomic Theory of Finance”— argumentando que os estados de ânimo, inclusive os inconscientes, são motores dos mercados financeiros, não o contrário. É uma perspectiva que inverte nossa concepção tradicional de causalidade, e exige certa adaptação, mas está se popularizando.
Talvez seja apropriado que o poder das histórias esteja recebendo maior reconhecimento durante a era de Donald Trump, que ascendeu à presidência graças, em grande parte, a um absoluto desprezo pela realidade objetiva. Como Shiller admite, Trump é um “mestre da narrativa”. Esperemos que esta não seja desastrosa.
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