Por Eric Roston.
Nem tudo saiu perfeito para Ted Halstead nesta semana.
Quando a limusine que ele dividia com James Baker — ex-secretário de Estado, do Tesouro e duas vezes chefe do gabinete presidencial dos EUA — parou em frente à Casa Branca, na quarta-feira, um problema de acesso com o motorista os deixou parados no portão. A comitiva de Baker, que incluía o principal economista de Ronald Reagan, Martin Feldstein, teve que caminhar pela pista. Um erro ortográfico no nome de Feldstein os barrou em dois outros postos de controle.
Mas para Halstead, estes foram os únicos inconvenientes de uma empreitada bem-sucedida. Com a ajuda de Baker, Feldstein e outras figuras do establishment do Partido Republicano, ele protagonizou aquele que pode ter sido o maior dia para a política climática desde a assinatura do Acordo de Paris, em 2015. A tão falada reunião deles com Gary Cohn, principal assessor econômico do presidente Donald Trump, ajudou a apresentar o Conselho de Liderança Climática a um público maior e talvez a abrir um caminho para lidar com o aquecimento global sem comprometer as crenças fundamentais do partido.
Trump fez sua campanha, em parte, reduzindo o valor de políticas ambientais colocadas em prática pelo presidente Barack Obama, afirmando que a mudança climática é um engodo e argumentando que as regras contra emissões são onerosas para as empresas. Mas outros opositores das regulações climáticas têm mudado de ideia ultimamente, reconhecendo a existência do aquecimento global — e até que os seres humanos são os causadores –, e, portanto, oferecendo a alguém como Halstead uma porta de entrada com algo chamado taxa do carbono.
A taxa que ele propõe não é exatamente uma taxa, pelo menos não no sentido convencional. As receitas não iriam para o Tesouro. Elas seriam destinadas a um programa administrado pela Administração de Seguro Social dos EUA, devolvendo pagamentos de “dividendos” iguais aos contribuintes. Fornecido para todos, menos para os 30 por cento mais ricos, o dinheiro mais que compensaria pelos preços maiores da energia, segundo projeções. E a isca para os céticos é que o governo não ficaria com nenhum centavo.
Mesmo com o apoio a Halstead nesse grupo de republicanos influentes do século 20, é necessária a sanção dos pares deles do século 21. Não se sabe como o procurador-geral de Oklahoma, Scott Pruitt, comandará a Agência de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês) após sua esperada confirmação como administrador. A EPA se tornou o principal instrumento de Obama para reduzir a poluição quando a legislação do setor deixou de vigorar, em 2010. Os oráculos preveem que Pruitt eliminará as regras impostas às usinas de energia, peça central do trabalho de Obama no assunto.
Mas segundo a proposta de Halstead, isso não faria diferença. O plano dele reduziria duas vezes mais emissões que as regulações da era Obama, dizem dois analistas que ajudaram a Exxon Mobil e o Sierra Club a chegarem a um acordo em relação a um imposto ao carbono em 2009. Os consumidores seriam afastados do consumo de combustíveis fósseis devido à despesa maior. No fim, as leis que exigem a redução da poluição poderiam ser eliminadas, já que o mercado assumiria o controle — pelo menos na teoria. Este é o plano de Halstead, apontado em reportagens da imprensa nesta semana como uma possível terceira via neste debate existencial. Mas a estratégia não é nada nova — ela está sendo elaborada há duas décadas.
Em 1997, as negociações sobre mudanças climáticas globais chegavam a um estágio crucial no Japão. Halstead encabeçou uma declaração de 2.500 economistas que reconheceram que o aquecimento global é real, que é causado pelo homem e que as políticas baseadas no mercado são a melhor estratégia de combatê-lo.
O Protocolo de Quioto nunca foi ratificado pelos EUA, o que ajudou a convencer Halstead que “o mundo não estava pronto para políticas climáticas baseadas no mercado”. Àquela altura, ele foi cursar uma pós-graduação na Escola Kennedy de Governo de Harvard. Em 1999, ele criou a New America Foundation, um think tank de centro-esquerda que administrou durante 10 anos. Depois disso, passou cinco anos navegando pelo mundo com sua esposa.
Em 2015, Halstead viu sua atenção se voltar novamente para a mudança climática. O mercado ainda estava em grande parte pouco disposto a colocar um preço no dano presente e futuro causado pela poluição. Durante anos, mais organizações investiam mais dinheiro, mas o trabalho não atingia as metas sugeridas pelos cientistas. “Simplesmente não fazia sentido”, disse ele, em entrevista concedida nesta semana à Bloomberg.
Seu Indicador de Progresso Genuíno mostrou que “existe uma desconexão fundamental entre a forma como medimos a economia e verdadeiro estado da economia”, disse ele. O mercado não consegue contabilizar as chamadas “externalidades”, problemas que as empresas criam, não têm incentivo para resolver e empurram para a sociedade em geral.
“Se fosse preciso apontar uma única causa básica do problema climático, é essa”, disse ele. O dióxido de carbono impõe custos à sociedade, mas despejá-lo na atmosfera é grátis. “Todos os sinais de preço estão errados.” Se a ideia é desacelerar a mudança climática, disse ele, isso precisa ser corrigido.
Halstead mergulhou de cabeça no assunto para refinar seus argumentos e escreveu um novo ensaio na revista Atlantic em que analisava aquilo que se tornou um precedente fundamental do trabalho do Conselho de Liderança Climática: o imposto sobre o carbono neutro em termos de receitas. Esse experimento mostrou como o esquema básico funciona– as emissões caíram apesar do crescimento econômico. Para que continuasse funcionando, o preço do carbono precisaria continuar subindo regularmente — e o programa perdeu impulso porque isso não ocorreu.
Halstead, então, somou ao projeto uma ideia na qual havia trabalhado duas décadas antes: reduzir as contas dos contribuintes — o “dividendo”. A partir daí, foi fácil identificar o modelo adequado para suas ideias.
“O caminho para o sucesso dessa ideia passa pelo Partido Republicano”, disse ele.
Em maio, Halstead viajou para a Califórnia para se reunir com o ex-secretário de Estado George Shultz e com Thomas Stephenson, capitalista de risco da Sequoia Capital. Os dois homens são afiliados a um centro de política energética da Universidade de Stanford e atuam em assuntos de energia limpa e questões climáticas. Halstead descreveu sua estratégia — de construir uma Liga Extraordinária de Cavalheiros das políticas climáticas — para ajudar a apresentar aos republicanos de Washington um mundo moderno e cada vez mais quente.
Shultz e Halstead escreveram cartas a possíveis candidatos, convidando-os a ajudar a construir o Conselho de Liderança Climática. Uniram-se ao grupo o ex-secretário do Tesouro e ex-presidente do conselho do Goldman Sachs Henry Paulson e o economista da Universidade de Harvard e ex-presidente do Conselho de Assessores Econômicos da Casa Branca Greg Mankiw. Ambos apoiavam a aplicação de um imposto ao carbono a princípio e foram convencidos a ajustar o foco à política de taxa e dividendos de Halstead. Rob Walton, um ex-presidente do conselho do Wal-Mart e atual chefe do comitê executivo da organização Conservação Internacional, também aderiu. Pouco depois, Halstead viajou a Houston para se encontrar com Baker.
Liderança republicana
Baker, 86, nunca havia feito da mudança climática um de seus assuntos centrais. Mas reconheceu a lógica de Shultz quando os dois conversaram no ano passado, e Shultz defendeu colocar a liderança republicana no assunto.
O instinto de Baker ficou claro na reunião na Casa Branca. Quando os visitantes conseguiram passar pela segurança da Casa Branca, ele os guiou até a sala Roosevelt, oposta ao Salão Oval, e aguardou.
“Fiquei tentado a dizer ‘OK, enquanto esperamos por eles, vamos sentar’”, disse Halstead. “E Baker — em algo assim, você sempre vai querer seguir a liderança de Baker — disse, ‘ficarei de pé até que eles cheguem.’”
Então eles permaneceram de pé.
Quando Cohn chegou, Baker começou imediatamente. “Eles realmente compreenderam a política”, disse Halstead a respeito dos assessores de Trump, sem entrar em detalhes. “Eles fizeram alguns comentários favoráveis a respeito. Saímos bastante satisfeitos”. A Casa Branca não deu retorno a um pedido de comentário.
Essa reunião pode ser o início de um novo capítulo na odisseia da taxa ao carbono de Halstead, que já dura 20 anos. “Em um período bastante curto de tempo, pegamos nossa solução e a transformamos no plano climático conservador padrão, se e quando o governo e o Congresso quiserem avançar com isso”, disse ele. Mas ele também é realista e admite que há forças poderosas veementemente opostas a qualquer nova taxa.
Halstead se mantém firme em relação ao que o motiva a buscar uma taxa ao carbono. “Ter filhos realmente muda sua perspectiva em relação à vida”, explicou. “Você pensa no futuro deles. E o exemplo mais simples disso está na mudança climática.”
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