Por Dr Mohamed Aly El-Erian.
A resposta imediata dos mercados à elevação dos juros pelo banco central dos EUA na quarta-feira incluiu uma impressionante disparada das bolsas e a queda significativa dos rendimentos dos títulos do governo americano. Alguns elogiaram os benefícios de uma subida de juros de caráter “brando” por um Federal Reserve que se comporta como a personagem Cachinhos Dourados. Outros criticaram a extrapolação de um movimento que foi sobretudo técnico. Avaliando estas e outras opiniões, é preciso entender seis fatores por trás dessa reação incomum do mercado e algumas implicações para o futuro.
Antes do anúncio, alguns investidores estavam posicionados para uma revisão para cima mais agressiva no gráfico de pontos (“dot plot”) que reflete as expectativas dos integrantes do comitê de política monetária (Comitê de Mercado Aberto ou FOMC) para a trajetória futura dos juros. Mas o Fed manteve inalterada a projeção para os juros em 2017-18.
Além disso, embora o Fed tenha conseguido elevar as expectativas do mercado para um acréscimo dos juros em março e depois validado o aumento, a presidente do Fed, Janet Yellen, repetiu algumas vezes durante a entrevista coletiva na quarta-feira que a avaliação da instituição sobre a economia não havia mudado desde a reunião anterior, em janeiro.
A interpretação de que o ajuste dos juros foi brando obrigou quem tinha posições a descoberto a procurar cobertura no mercado de renda fixa. A pressão baixista resultante sobre os rendimentos dos títulos do Tesouro americano deu impulso adicional às bolsas e fortaleceu esperanças de que o Fed poderia entregar uma “normalização linda” dos juros (o que depende de fatores domésticos e internacionais que não estão sob controle da instituição).
Olhando adiante, tudo isso vai reforçar a confiança do Fed no processo gradual de transição de seu regime para além da dependência dos dados, à medida que o banco central fica mais à vontade liderando os mercados e não seguindo-os. Assim, em um distanciamento notável do ocorrido nos últimos anos, é mais provável que as expectativas para a trajetória de médio prazo dos juros migrem lentamente para o que o Fed estabelece, em vez de acontecer a convergência oposta.
Essa convergência gradual será reforçada por o que provavelmente será uma mudança no balanço de riscos percebido pelo Fed nos próximos meses. Com a provável evolução das condições domésticas e internacionais, o Fed deve sinalizar que, se um total de seis acréscimos em 2017-18 não permanecer como cenário básico, é porque é mais provável uma alta adicional de juros do que uma a menos. Essa evolução agressiva do balanço de riscos seria seguida de um sinal mais definitivo do Fed se a presidência e o Congresso entregarem o trio de políticas pró-crescimento (desregulamentação, infraestrutura e reforma tributária).
A perspectiva para essas políticas influenciará não apenas o Fed. Na migração em curso de apostas no Fed para apostas na presidência, as cotações das ações já embutem um impulso ao crescimento econômico motivado por Trump, pelos lucros das empresas e pela repatriação de dinheiro corporativo para os EUA. Expectativas favoráveis para as medidas do governo também valorizaram outros ativos de risco, como títulos corporativos de alto rendimento, apesar de alavancagem excessiva, emissão recorde de dívidas e qualidade de crédito questionável em alguns casos.
Tudo isso deixa os investidores com uma proposta de carteira mais complicada, agora que os índices acionários dispararam e os setores em desvantagem (como tecnologia e mercados emergentes) tentam avançar. O aumento da exposição a risco agora representa uma aposta maior na política doméstica e em condições internacionais propícias.
Esta coluna não necessariamente reflete a opinião do comitê editorial da Bloomberg LP e seus proprietários.
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