Por Laura J. Keller.
Piadas obscenas e GIFs impróprios para o trabalho. Fotos de colegas desavisados no pregão. Capturas de tela de posições confidenciais de clientes.
Tudo isso — e, às vezes, até mesmo informações duvidosas juridicamente — está sendo usado cada vez mais nas novas redes privadas de Wall Street: os serviços de mensagens criptografadas como WhatsApp e Signal.
Traders, banqueiros, gestores de recursos e praticamente todos do mundo das finanças estão adotando esses aplicativos como um meio fácil, e quase indetectável, de contornar as políticas de compliance e de Recursos Humanos e deixar os chefes no escuro. E isso está acontecendo apesar das iniciativas do setor para reprimir as comunicações não monitoradas, de acordo com conversas com funcionários de mais de uma dúzia das instituições mais famosas de Wall Street.
Nesta mesma semana, um ex-banqueiro do Jefferies Group foi multado no Reino Unido por compartilhar informações confidenciais no WhatsApp.
De diversos modos, esse acontecimento é o reflexo de uma mudança cultural. Tanto nos grandes quanto nos pequenos bancos, mesas de trading desordeiras e o éthos de mau comportamento já não são tolerados, pelo menos publicamente. Mas o uso generalizado de apps criptografados também gera um receio mais profundo: a possibilidade de um comportamento imprudente praticamente impossível de policiar e que pode propiciar violações como escândalos em salas de bate-papo envolvendo manipulações da taxa Libor e do câmbio.
“Você pode perfeitamente operar por fora do banco”, disse William McGovern, ex-diretor de agência da Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC, na sigla em inglês) e ex-advogado sênior do Morgan Stanley que atualmente trabalha no escritório de advocacia Kobre & Kim. “Observamos em nossas investigações que o terreno está mudando para todos, e as mudanças tecnológicas são responsáveis por boa parte disso.”
Normas e regulamentações
As regras são claras. Firmas financeiras precisam manter registro de todas as comunicações empresariais por escrito, independentemente do quão inofensivas forem, de acordo com a SEC e com a Autoridade Reguladora da Indústria Financeira dos EUA (Finra, na sigla em inglês). Gestores de ativos devem seguir normas similares.
Representantes dos bancos de Wall Street, como Goldman Sachs Group, Bank of America e Citigroup, afirmam que têm diversas políticas vigentes para evitar as comunicações não monitoradas e o acesso não autorizado a informações confidenciais. As instituições conferem rotineiramente e-mails e bate-papos em aparelhos corporativos, limitam o uso de telefones pessoais e serviços de mensagens nos pregões e exigem que os funcionários assinem acordos que proíbem comunicações não monitoradas no trabalho. Em janeiro, o Deutsche Bank proibiu mensagens de texto e aplicativos como WhatsApp e iMessage, da Apple, em seus telefones corporativos em todo o mundo para aprimorar os padrões de compliance.
No setor financeiro, as quase duas dúzias de funcionários que conversaram com a Bloomberg disseram que essas políticas são rotineiramente ignoradas e que o uso de telefones pessoais no trabalho é um fato inegável. Ninguém quis falar sem anonimato por medo de perder o emprego.
Quando consultada sobre o uso generalizado de aplicativos proibidos, a porta-voz da SEC Judith Burns preferiu não comentar.
Nos grandes bancos, funcionários costumam usar esses aplicativos para fofocar, contar a clientes durante as reuniões matinais de vendas o que eles pretendem comprar e vender (muitas vezes diante de seus chefes) ou até mesmo para se gabar de uma transação particularmente lucrativa, disseram as pessoas. Prevalece a mentalidade de não tocar abertamente no assunto.
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