Por Beth Mellor e Felice Maranz.
A quebra de oito décadas de tradição sobre a forma de cobrança por pesquisas de renda variável em Wall Street aumentará a transparência e reduzirá conflitos. Mas não vai convencer mais gente a seguir carreira como analista.
É esta a opinião de Craig Moffett. Ele aposta que sua butique de análises MoffettNathanson vai prosperar com a entrada em vigor, no ano que vem, de regras na Europa que impedem que gestoras de fundos usem ativos de clientes para pagar por pesquisas. O lado ruim da reforma, na visão desse ex-diretor da Sanford C. Bernstein, seria o lento declínio dos astros desse segmento, que estão se aposentando.
“Há um pequeno número de analistas dominantes que conseguem ganhar a vida como Michael e eu”, ele disse, se referindo ao sócio Michael Nathanson. “Não está claro de onde virá a próxima geração de analistas.”
Moffett está menos preocupado com o presente. A firma dele cobra assinaturas anuais de US$ 100.000 por análises dos setores de telecomunicação e mídia e mais ainda por um serviço que oferece telefonemas com analistas e executivos, segundo três clientes que pediram anonimato. As novas regras podem consolidar a posição de firmas como a de Moffett, que operam sem comissões de corretagem.
Esses regulamentos, conhecidos como MiFID II (sigla em inglês para Diretiva de Mercados em Instrumentos Financeiros), pretendem impedir que instituições de fundos direcionem ordens de compra e venda de ações a outras firmas como forma de pagar por pesquisas. Segundo críticos, esse arranjo produziu um grande número de analistas que dão péssimos conselhos. Com o dinheiro para pesquisa saindo dos lucros próprios e não dos ativos dos clientes, a ideia é que os gestores exigirão mais valor porque estarão pagando.
Orçamentos de pesquisa
Alguns dos efeitos colaterais de MiFID II serão a redução dos gastos com pesquisas e a consolidação de corretoras e instituições de fundos, de acordo com estudo publicado em outubro pela Bloomberg Intelligence juntamente com Edison Investment Research e Frost Consulting. Gestoras de ativos na Europa e nos EUA podem cortar mais de US$ 300 milhões de seus orçamentos de pesquisa em antecipação aos novos regulamentos, segundo estimativa feita a partir de uma sondagem da Greenwich Associates com gestores de fundos.
Analistas de renome – como a expert no setor residencial Ivy Zelman – conseguirão sobreviver, mas outros talvez precisem virar funcionários dos fundos ou trabalhar para family offices, afirmou Benjamin Quinlan, da Quinlan & Associates. Em relatório publicado em março, a empresa dele projetou redução de 25 a 30 por cento nos gastos globais com pesquisa até 2020 e descreveu “sinais crescentes de pânico” à medida que corretoras e gestoras de fundos começam a digerir os desafios de implementação impostos por MiFID II.
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