Por Andy Mukherjee.
Não é sempre que o Fundo Monetário Internacional alerta para um risco à estabilidade financeira global em sua reunião de primavera em Washington e, quase que imediatamente, evidências saltam do balanço financeiro de um banco em Mumbai.
Foi o que aconteceu na quarta-feira. O FMI divulgou sua análise mostrando um alarmante acúmulo de dívida corporativa vulnerável — do tipo onde o lucro operacional está bem abaixo do pagamento de juros — na Índia, Indonésia, China, Turquia e Brasil. E, coincidentemente, o Yes Bank, um banco indiano que acabou de captar dinheiro novo no mercado acionário no mês passado, divulgou que seus ativos brutos de alto risco quase que dobraram no fim de março, para 1,52 por cento, em relação aos 0,85 por cento em dezembro.
A Índia tem muitos bancos estatais com problemas financeiros: o Yes Bank não é um deles. A disparada de seus empréstimos duvidosos é devido às unidades de cimento da Jaiprakash Associates. A construtora da única pista de Fórmula 1 da Índia é uma devedora em crise que tem bônus atrelados à moeda americana vencendo em setembro sendo negociados por menos de 42 centavos de dólar. Seus ativos de cimento estão em processo de venda para o bilionário Kumar Mangalam Birla, portanto o Yes provavelmente será reembolsado no final das contas.
Ainda assim, a alavancagem corporativa é uma preocupação para mercados emergentes como a Índia, porque uma parcela desproporcionalmente grande dela pode ser encontrada em frágeis balanços como o da Jaiprakash. As obrigações de empresas que têm um índice de cobertura de juros menor que 1 respondem por 22 por cento da dívida total na Índia, 17,5 por cento na Indonésia e quase 13 por cento na China.
Pior ainda, destaca o FMI, só o aumento dos prêmios de risco globais acrescentaria US$ 135 bilhões a esta fraca cauda de distribuição de dívida. Protecionismo é o outro caminho para a cauda ficar mais longa. As políticas de comércio da administração Trump devem ter menos importância para países exportadores de commodities como Rússia ou Arábia Saudita, mas o perfil da dívida corporativa da China pode piorar acentuadamente.
Felizmente para a Indonésia, seu sistema bancário está razoavelmente em boa forma. Índia, África do Sul, Rússia e China enfrentam um duplo golpe. Seus bancos podem não conseguir lucro suficiente — ou capital — para absorver uma piora da dívida corporativa. Depois de fazer provisões adicionais para perdas com empréstimos, entre 45 por cento e 77 por cento dos ativos de crédito corporativo nesses mercados estariam com bancos com índices de capital nível 1 abaixo de 10 por cento.
Quando se trata de rentabilidade da empresa, a frágil cauda da dívida já está sacudindo a Índia. Se crescer ainda mais por causa de prêmios de risco ou protecionismo, outras economias emergentes também podem não estar tão seguras.
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