Colapso econômico do Porto Rico produz êxodo em massa

Por Jonathan Levin e Rebecca Spalding.

É uma escolha dolorosa: ficar para ajudar outras famílias ou ir embora para ajudar a própria.

Esse é o cálculo que milhares de porto-riquenhos estão fazendo. O pedido de concordata do território associado dos EUA após anos de declínio provocou um êxodo que está agravando os problemas econômicos da ilha.

“Eu tive que escolher a minha família”, disse Aledie Amariah Navas Nazario, 39, uma pneumologista infantil que deixou para trás jovens pacientes com asma quando ela se mudou com o marido e duas filhas pequenas para Orlando, Flórida.

A redução populacional é impressionante. A ilha perdeu 2 por cento de sua população em cada um dos últimos três anos. Um êxodo comparável dos 50 estados americanos equivaleria à saída de 18 milhões de pessoas desde 2013. Em comparação com uma década atrás, quando a economia começou a contrair, cerca de 400.000 porto-riquenhos menos moram na ilha que hoje tem 3,4 milhões de habitantes.

O êxodo deixou Porto Rico atolado em uma espiral descendente. Uma recessão dura, com uma taxa de desemprego de 11,5 por cento, e uma montanha de dívidas de US$ 74 bilhões, que levou a ilha à insolvência, a cobrança de impostos passou a ser fundamental para a recuperação econômica.

Ao mesmo tempo, mais porto-riquenhos estão abandonando a ilha para melhorar de vida, o que significa que a receita pública está diminuindo.

Êxodo

O governo não parece ter entendido o fluxo de saída. O plano de recuperação do Porto Rico – um caminho para a sustentabilidade aprovado por um conselho de supervisão dos EUA – pressupõe que a população diminuirá apenas 0,2 por cento por ano durante o próximo decênio. O governo utiliza esse número como base para suas projeções de receita fiscal e crescimento econômico.

O êxodo não se limita a profissionais. Entre as massas que abandonam a ilha há trabalhadores da construção e taxistas. Uma pesquisa do Federal Reserve de Nova York concluiu que pessoas com diploma universitário representam aproximadamente a mesma proporção de emigrantes que da população geral da ilha, o que sugere que as saídas afetaram todos os cantos de Porto Rico.

“Se as pessoas continuarem saindo da ilha no ritmo observado nos últimos anos, o potencial econômico de Porto Rico só vai continuar deteriorando”, escreveram para o Fed de Nova York autores como Jaison Abel e Giacomo De Giorgi.

Declínio

É verdade que a população de Puerto Rico diminui há 12 anos e que outros episódios de declínio acabaram em períodos similares. Alguns exemplos são os ciclos de altos e baixos das commodities, que diminuíram as populações do Wyoming e da Virgínia Ocidental na década de 1980, e a fuga da cidade de Nova York durante uma onda de criminalidade na década de 1970. No fim das contas, as populações parecem parar de se contrair quando quem queria e podia sair já foi embora.

Mas nenhum desses exemplos é uma analogia direta com Porto Rico, cujos moradores têm passaporte dos EUA, mas vivem em condições socioeconômicas mais similares às da América Latina.

Para Navas Nazario, a escolha acabou ficando óbvia.

“As pessoas dizem: ‘Você não lutou. Você desistiu’”, disse ela. “Não é assim quando você tem filho pequeno. Você precisa escolher por eles.”

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