Por Katie Linsell.
O mercado de títulos verdes floresceu com a promessa de ajuda ao meio ambiente. Agora, o setor tenta mostrar que essa ambição corresponde à realidade.
Consultores e agências de classificação de risco começaram a acompanhar o efeito ambiental de projetos financiados por títulos verdes, como, por exemplo, o impacto na poluição atmosférica. Esses serviços podem permitir que os investidores dependam menos das promessas dos vendedores dos títulos – que são difíceis de verificar e praticamente impossíveis de exigir juridicamente – e também aumentar a confiança nesse mercado, no qual as vendas devem crescer 30 por cento neste ano para um recorde de US$ 123 bilhões, segundo projeções da Bloomberg New Energy Finance.
“Se compramos um título verde, como sabemos se é verde mesmo?”, colocou Robert Parker, ex-conselheiro sênior do Credit Suisse Group. “Existem questões grandes para garantir conformidade.”
As garantias precisam aumentar porque não existe uma agência reguladora para o mercado de títulos verdes e os investidores não conseguem monitorar sozinhos centenas de projetos ao redor do mundo. A falta de padrões também diminui o rigor sobre o que os emissores podem vender como projeto “verde”.
Uma tentativa de padronização é o rótulo de título verde apresentado nesta semana pelo LuxFlag, grupo apoiado pelo governo de Luxemburgo e pela bolsa de valores daquele país, onde estão listados mais de 50 por cento dos títulos verdes do planeta. Emissores interessados no rótulo precisam cumprir critérios que incluem a avaliação independente do impacto ambiental do projeto, segundo o website do LuxFlag.
“O fator mais importante é a verdade no rótulo”, disse Anouk Agnes, vice-diretora geral da Associação da Indústria de Fundos de Luxemburgo, que ajudou a fundar o LuxFlag. “Os investidores precisam de garantias de que, se comprarem um fundo ou título que afirma ser verde ou sustentável, o mesmo fará o que promete.”
A Bloomberg LP, dona da Bloomberg News, também oferece um serviço de rotulagem de títulos verdes.
Em abril, a S&P Global Ratings estreou um serviço que avalia o quanto os títulos verdes beneficiam o meio ambiente, além da governança e transparência do financiamento. A agência também está criando um sistema que classifica tomadores de recursos com base em valores ambientais, sociais e de governança, segundo o diretor-gerente Michael Wilkins.
O que é verde?
Definir o que é “verde” continua sendo difícil, especialmente quando setores tradicionalmente poluentes buscam financiamento. Na China, a maior emissora de títulos verdes no ano passado, os papéis podem ser usados para financiar usinas elétricas movidas a carvão, contanto que o projeto cumpra certos critérios.
Grandes petrolíferas também estão começaram a vender títulos verdes. A primeira emissão foi da Repsol, em maio, em uma captação para reduzir a emissão de gases que causam o efeito estufa e para tornar suas instalações mais eficientes.
A colocação dividiu o setor. A Vigeo Eiris declarou que se tratava de um título verde, mas a Climate Bonds Initiative excluiu os instrumentos da lista de investimentos amigos do meio ambiente, em parte, devido a preocupações relativas ao prolongamento da utilização de combustíveis fósseis.
“Fico muito preocupado quando uma empresa vende um título verde e o outro lado do negócio dela não cumpre metas de energia”, disse Ulf Erlandsson, um investidor do fundo de pensão estatal sueco Fjaerde AP-Fonden, que administra aproximadamente US$37 bilhões.
Os emissores tentam tranquilizar os investidores reforçando a transparência dos títulos verdes. No fim do ano passado, aproximadamente 80 por cento dos emissores tinham compromisso de prestar contas sobre o uso dos recursos e seu impacto ambiental ou de passar por avaliação externa, comparado a uma parcela de 70 por cento no primeiro trimestre de 2015, segundo a Bloomberg New Energy Finance.
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