Por Josue Leonel com a colaboração de Vitor Martinez.
O mercado vê um cenário cada vez mais favorável ao corte dataxa de juros. Em parte, isso se deve a fatores vistos como positivos pelos investidores, como a tentativa do governo de reformar a Previdência e a redução dos subsídios no crédito aos empresários. Porém, os fatores negativos, como a atividade ainda fraca no Brasil, o cenário externo de crescimento lento e os preços de commodities muito abaixo das máximas, também encorajam parte do mercado a prever que a Selic pode cair mais do que os níveis precificados na curva de juros, que apontam uma taxa perto de 7,66% no final do ano.
Com a inflação surpreendendo para baixo e o Banco Central menos confiante na retomada da economia, o juro básico pode cair este ano para 7%, abaixo do piso histórico de 7,25%, diz Carlos Kawall, economista do Banco Safra e ex-secretário do Tesouro. O cenário externo, que segue ”benigno”, e mudanças da agenda econômica do governo, como a reforma trabalhista e a criação da TLP, também corroboram um cenário de juros menores. Na pesquisa Focus Top5 desta semana, mercado cortou previsão da Selic este ano para 7,38%.
Os “ruídos” causados no mercado pelas críticas do BNDES e empresários à TLP não invalidam o fato de a nova taxa de longo prazo ser um avanço relevante para a economia ao reduzir o subsídio dos empréstimos em relação à TJLP. “É um enorme avanço”, diz Kawall. Quanto à reforma trabalhista, além de a proposta ter impacto econômico relevante no longo prazo, teve o efeito político de “mostrar que o governo não acabou”, ao contrário do que se chegou a pensar após a delação da JBS.
Alguns analistas consideram que a possibilidade de o BC manter no próximo Copom o ritmo de corte da Selic em 1 ponto percentual dependerá do andamento da reforma da Previdência. Se não houver perspectiva de aprovação, ou se o texto estiver muito desidratado, aumentam as chances de o corte ser desacelerado para 0,75 pp em setembro.
O mercado, porém, tem se mostrado mais cético com a Previdência após a recente turbulência política, apesar da tentativa do governo de colocar o tema de volta à agenda. Por outro lado, essa descrença criou um potencial de alta, ou seja, o efeito positivo será maior se a reforma passar do que o negativo no caso de não passar, na visão dos investidores.
O Banco Morgan Stanley cortou sua previsão para a Selic de 8,75% para 7,5% no final deste ano. A forte redução foi causada pela recuperação ainda frágil da economia, que se tornou fonte de preocupação para o BC, diz relatório do banco. O risco seria um corte excessivo da taxa agora levar à necessidade de o BC voltar a subir o juro no próximo ano. O Morgan prevê alta de 1 ponto da Selic em 2018.
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