Por Josue Leonel e Vinícius Andrade.
O mercado de juros se comporta como o principal termômetro das preocupações dos investidores com a dificuldade do governo em reduzir o rombo fiscal, exposta esta semana com o anúncio do aumento da meta de déficit para R$ 159 bi para este e o próximo ano. A retomada ainda incipiente do crescimento, a arrecadação federal insuficiente para bancar as despesas e a incerteza com a reforma Previdência colocam o país em risco de novo rebaixamento de rating no médio prazo.
Esse sentimento está refletido na diferença de comportamento entre os ativos brasileiros nos últimos dias. Na bolsa, o contágio é minimizado porque os investidores buscam empresas resilientes à crise. No câmbio, as contas externas e a liquidez internacional impedem que o dólar avance além de determinados limites.
Já a curva de juros vem mostrando inclinação desde meados de julho e espelha claramente incertezas fiscais. O spread entre as taxas para janeiro de 2018 e janeiro de 2025 subiu perto de 60 pontos em um mês até a quinta-feira. Além disso, o CDS do Brasil está pior em relação aos seus pares tradicionais e, ontem, registrou maior avanço desde 18 de maio, no auge da crise da delação da JBS.
Os ativos brasileiros chegaram ao limite do que poderiam ter de precificação positiva, dada a situação do governo, o que torna o mercado sensível aos desdobramentos políticos internos e ao aumento de cautela com Donald Trump e terrorismo na Europa, disse Rodrigo Abreu, economista da Caixa Asset. Há uma certa melhora na economia, mas que agora aguarda a resolução da extensa agenda de reformas proposta pelo governo. Para ele, a pauta está congestionada no prazo curto com reforma política, TLP, volta da Previdência ao debate e medidas de corte de despesa.
“O risco fiscal está sendo, de certa forma, precificado”, diz Rodrigo Borges, diretor de renda fixa da Franklin Templeton no Brasil.
Enquanto o câmbio é favorecido pela “tranquilidade das contas externas”, com déficit em conta corrente praticamente financiável pelo investimento externo direto, o mercado de juros reflete, além da preocupação com exterior, o cenário político local, diz Rafael Ihara, economista da Ethica Asset.
“Não é exatamente com a meta, mas há um estresse não resolvido entre o centrão e tucanos e o governo precisa reorganizar a base para conseguir avançar nas aprovações.”
O mercado de DI mostra desconforto com a dependência do ajuste fiscal em relação ao Congresso, num momento de divisões na base aliada ampliadas pela crise interna do PSDB. Investidores ainda não veem uma ruptura com o relativo otimismo que moveu os ativos brasileiros nas semanas anteriores. Por outro lado, querem mais provas de avanço das reformas e de controle fiscal para retomar as apostas. “O mercado quer ter evidências de que pode continuar otimista com o Brasil”, diz Abreu, da Caixa Asset.
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