Por Liz Capo McCormick.
Atualmente está impossível se tornar um monopólio de verdade em Wall Street.
Mas isso está acontecendo em um segmento vital do sistema financeiro e espalhando nervosismo.
Em meados de 2018, uma única entidade, o Bank of New York Mellon, será responsável pela compensação e liquidação diária de quase US$ 2 trilhões em instrumentos financiados por acordos de recompra. O único concorrente, JPMorgan Chase, está saindo do negócio depois de muito tempo e o BNY Mellon iniciou neste terceiro trimestre o processo de migração de clientes.
O problema não é exatamente o BNY Mellon abusar de sua posição no mercado de recompra, que é altamente regulamentado. Afinal, o JPMorgan jogou a toalha porque as regras adotadas após a crise tornaram o negócio mais caro e oneroso. A preocupação é que um só banco fará compensação e liquidação — ou seja, verificar que cada transação é válida, transferir dinheiro de uma conta para outra e salvaguardar a garantia dada em cada contrato — e, se algo der errado, o estrago é grande.
É difícil exagerar a importância do mercado de recompras para o sistema financeiro dos EUA atualmente. São empréstimos de curto prazo que as corretoras conseguem geralmente dando em garantia instrumentos de dívida pública, o que tem papel crucial nas negociações diárias de Wall Street. Esse mercado de recompra sustenta a liquidez do mercado de títulos do Tesouro americano, que movimenta US$ 14,1 trilhões. Além disso, os recursos disponibilizados também azeitam a engrenagem dos mercados de ações, títulos corporativos e moedas.
Ponto de falha
“Um único ponto de falha no mercado de recompras garantidas por instrumentos do governo dos EUA — que é enorme e basicamente o motor de liquidez do país — é preocupante por si só”, disse Adam Dean, diretor-gerente da Square 1 Asset Management. “Não é uma situação ideal.”
Vale lembrar que o pânico neste mesmo mercado contribuiu para o colapso do Lehman Brothers Holdings e paralisou o sistema financeiro há uma década. Embora o banco central dos EUA (Federal Reserve) tenha liderado esforços para reduzir os riscos sistêmicos no mercado de recompras, a presença de um único banco de compensação tem potencial para deixar os mercados dos EUA mais vulneráveis a desastres naturais, falhas de informática, terrorismo, ataques cibernéticos, etc.
Brian Ruane, responsável pela divisão de compensação de valores mobiliários e garantias de terceiros do BNY Mellon, diz que o banco não está deixando nenhuma brecha.
A instituição, que já dominava mais de 80 por cento desse mercado antes de o JPMorgan decidir sair dele, gastou US$ 100 milhões nos últimos anos para tornar sua infraestrutura de tecnologia mais robusta — incluindo modernizações para viabilizar a confirmação tripla de transações e a substituição automática de garantias nos acordos de recompra — e assim atender às novas exigências do Fed.
‘Papel importante’
A quantia não inclui o investimento “muito substancial” realizado para substituir a plataforma de compensação e liquidação, que já tinha três décadas. E desde o anúncio do JPMorgan no ano passado, o BNY Mellon gastou ainda mais em melhorias, segundo Ruane, que se recusou a dar um número exato.
“Compreendemos o papel importante que desempenhamos no mercado e estamos nos preparando para absorver essa maior capacidade”, afirmou Ruane, que trabalha na casa há 22 anos. “Um foco é construir resistência ao investir mais em backup, capacidade, tecnologia, processos e pessoas.”
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