Por Shuli Ren.
Por muito tempo, a Indonésia foi destino de investidores estrangeiros ávidos por rendimento e crescimento.
Mas, apesar de a bolsa local ter chegado a um recorde, eles bateram em retirada. Os não residentes venderam uma quantia líquida de US$ 942 milhões em ações do país neste ano, embora dois cortes de juros em meses sucessivos tenham colocado o principal índice da bolsa de Jacarta perto da marca dos 6.000 pontos. Nesta quarta-feira, o indicador subiu 0,3 por cento e atingiu a pontuação máxima de 5.958.
A explicação está na América Latina, menina dos olhos dos investidores internacionais neste ano. Só o Brasil atraiu US$ 3,4 bilhões em fluxos em carteira no ano e a quantia deve superar os US$ 3,9 bilhões que entraram em 2016.
Do ponto de vista dos investidores que olham para o mundo inteiro, o Ibovespa é negociado a um múltiplo mais razoável do que o índice de Jacarta: 14,8 vezes o lucro estimado para 2017 versus 17,7 para a bolsa do país do Sudeste Asiático.
Além disso, muitos investidores foram escaldados pela disparada dos spreads dos títulos e pelo tombo das ações da Indonésia em 2015. Aproximadamente 40 por cento dos títulos públicos da nação estão em mãos estrangeiras. Sendo assim, se os mercados anteciparem uma alta súbita dos juros nos EUA, títulos e ações sofrem saída de recursos.
Por exemplo, a inesperada eleição de Donald Trump à presidência dos EUA provocou um salto de 11 pontos-base no rendimento dos títulos do Tesouro americano com prazo de 10 anos e, quando isso aconteceu, o preço dos CDS (credit default swaps ou instrumentos de proteção contra inadimplência) da Indonésia subiu muito mais do que o da Índia, que também faz parte do grupo de países asiáticos considerados frágeis.
No entanto, a Indonésia de hoje não é a mesma de 2015.
Seu perfil de crédito corporativo melhorou muito. A S&P Global Ratings, a última das três grandes agências de classificação de risco a elevar a nota do país, agora considera a Indonésia uma estrela em ascensão. A S&P subiu as notas de crédito de 14 companhias do país neste ano e rebaixou apenas três. É a melhor proporção entre elevações e rebaixamentos de notas desde 2010. No caso do Brasil, a agência rebaixou as notas de 85 companhias e melhorou as classificações de apenas sete neste ano.
A Indonésia também ganha de longe do Brasil em termos de facilidades no mundo dos negócios. O país asiático avançou para o 36º lugar no ranking global de competitividade, vindo do 41º em 2016, de acordo com o Fórum Econômico Mundial, que considera a Indonésia “uma das principais inovadoras entre as economias emergentes”. O Brasil ocupa o 80º lugar no ranking.
Os investimentos estrangeiros em carteira são considerados voláteis, por bons motivos. É um dinheiro que viaja rapidamente, mas nem sempre na direção certa.
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