Por Tatiana Freitas.
Uma importante trader de grãos sul-coreana está trabalhando para eliminar intermediários e se aproximar dos agricultores do Brasil, em um último sinal de que as maiores potências agrícolas do mundo começam a perder influência no País.
A sul-coreana CJ CheilJedang, que negocia commodities agrícolas no Brasil há anos, começou a originar grãos no Brasil, o que significa que vai comprar diretamente de fazendeiros e cooperativas. Isso reduzirá a dependência em relação aos negociantes agrícolas e permitirá que a empresa aumente as vendas na Ásia, disse Alex Issa, diretor da CJ International no Brasil.
A decisão é semelhante às medidas adotadas por outras empresas de grãos asiáticas como a chinesa Cofco International, que decidiu originar grãos no Brasil, eliminando intermediários entre os agricultores do País e os consumidores asiáticos. Reflete também o cenário em constante mudança de um setor que no século passado foi dominado pelo quarteto conhecido como ABCD, formado por Archer-Daniels-Midland, Bunge, Cargill e Louis Dreyfus.
O aumento da produção e os estoques globais de grãos e oleaginosas nos últimos quatro anos-safra diminuíram a volatilidade e os preços. Esses são dois componentes-chave da rentabilidade para as tradings – as empresas que compram, armazenam, transportam, negociam e processam alimentos como milho, soja e trigo. No Brasil, as gigantes do grupo ABCD também tiveram que lidar com a expansão de capacidade de armazenamento dos agricultores e com a crescente presença de empresas asiáticas que procuram lidar com as necessidades de suas próprias regiões.
A CJ, que tem sede em Seul, espera duplicar o volume negociado de grãos para 20 milhões de toneladas no médio e longo prazos de 10 milhões de toneladas esperados para a safra 2017-2018, disse Issa. Na safra 2016-2017, a empresa vendeu cerca de 6 milhões a 8 milhões de toneladas. Todo o volume foi destinado à Ásia e cerca de metade foi produzida no Brasil.
’Grande player’
“Se você quer ser um grande player no mercado global, não pode ficar de fora do Brasil. Agora a CJ está preparada para isso”, disse Issa, em entrevista em São Paulo. O Brasil é o maior exportador de soja do mundo e o segundo de milho, atrás dos EUA.
Diferentemente de algumas de suas rivais asiáticas, que adquiriram traders locais para se aproximarem dos produtores rurais, a CJ montará sua própria equipe de originação no Brasil, disse Issa, que foi contratado em abril para formar a unidade brasileira. Anteriormente, ele foi diretor de grãos e oleaginosas da Nidera, trader de grãos holandesa adquirida pela Cofco.
Nos últimos meses, a CJ contratou traders locais e abriu escritórios para compra de grãos no município de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, em Londrina, que cobre Paraná e Mato Grosso do Sul, e no município de Rio Verde, para atender Goiás e Minas Gerais.
O início das atividades de originação de grãos no Brasil ocorre após a CJ comprar a processadora e fabricante de proteína de soja Sementes Selecta. O grupo sul-coreano pagou R$ 450 milhões por 90% da empresa com sede em Goiânia em uma transação finalizada em agosto.
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