Por Julian Lee.
Na última reunião da Opep, em maio, vários ministros do petróleo falaram muito informalmente que US$ 50 por barril era um bom preço para o óleo bruto. Não espere uma repetição disso na próxima reunião deles, no fim deste mês.
Aliás, espere o contrário. Com o aumento do petróleo, as avaliações dos ministros da Opep a respeito de um “preço justo” para sua produção provavelmente também subiram, e isso pode fazê-los divergir da principal parceira de fora da Opep: a Rússia.
A Opep já fez antes essa estranha avaliação a respeito do preço justo do petróleo. O preço certo sempre parece estar um pouco acima do preço atual, independentemente do valor. Foi assim nos anos 1990, quando o petróleo custava cerca de US$ 20 por barril. Foi assim também no início de 2008, pouco antes de o Brent atingir o pico de quase US$ 150 por barril.
Em retrospectiva, alguns integrantes da Opep aceitavam que aquele petróleo acima de US$ 100 era anormal. O secretário-geral Mohammad Barkindo escreveu em julho de 2016 que a “disparada dos preços” em 2008 era “insustentável” e provavelmente prejudicial à economia mundial. E apesar de por enquanto ninguém na Opep estar falando em US$ 100 como preço justo, podem apostar que também ninguém falará em US$ 50.
Não há nada de errado com as aspirações, mas parece que as lições do passado recente estão sendo esquecidas rapidamente. A ganância da Opep de tentar manter os preços do petróleo acima dos US$ 100 por barril após 2011 foi um estímulo importante para a explosão do xisto dos EUA e para o subsequente colapso dos preços, em 2014.
O retorno à estratégia de mirar um preço cada vez maior pode desencadear outra expansão insustentável da produção.
É verdade que a produção do petróleo de xisto dos EUA neste ano não correspondeu às elevadas expectativas da Administração de Informação de Energia dos EUA (EIA, na sigla em inglês). Mas isso não significa que o xisto tenha perdido o fôlego. O efeito do enfraquecimento dos preços do petróleo no verão americano e a passagem do furacão Harvey pelo Texas não podem ser descartados.
O aumento dos preços do petróleo permitirá que empresas com foco no xisto ampliem as operações, mesmo que mirem retornos melhores dos acionistas. A EIA estima que a produção média de petróleo na parte continental dos EUA aumentará em 620.000 barris por dia no ano que vem. O volume pode ser ainda maior se os preços do petróleo continuarem subindo.
O risco é que esse novo otimismo da Opep incentive os membros a buscarem novamente preços cada vez mais altos, justificando cada aumento como um passo em direção ao tal “preço justo” mágico. Isso já está começando a ocorrer. No fim de outubro, o ministro do Petróleo do Catar afirmou que os preços estavam se movendo na “direção certa” rumo a níveis justos em um momento em que o Brent passava dos US$ 60. Ele não especificou qual era esse novo nível justo, mas no ano passado seu par venezuelano o fixou em US$ 70 por barril e o Iraque sugeriu algo entre US$ 70 e US$ 80.
As aspirações de alguns países da Opep podem conflitar com as de seu principal apoiador externo, a Rússia. Moscou teme a prática de deixar os preços subirem demais, sugerindo inclusive que o barril a US$ 60 seria suficiente para justificar o abandono do acordo para produção. O ministro do Petróleo russo disse na quinta-feira que a Opep e seus parceiros ainda têm cinco meses para decidir se devem estender o acordo e que qualquer extensão precisa ser justificada pelas condições de mercado mais próximas do momento da decisão.
A relutância russa em embarcar nos sonhos de preço justo da Opep ainda pode prejudicar a notável coesão entre os países que buscam reequilibrar o mercado de petróleo.
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