Por Jessica Shankleman.
Após uma das piores temporadas de furacões da história no Oceano Atlântico, as maiores seguradoras do mundo dizem que o setor precisa se reorganizar se quiser sobreviver às mudanças climáticas.
Os seguros contra catástrofes naturais poderiam atingir níveis inacessíveis para famílias e empresas, e os danos potenciais são tão imprevisíveis que poderia ser impossível criar um modelo para eles — um risco inaceitável para as seguradoras.
“Em algum momento no futuro as pessoas não poderão mais pagar seguros contra catástrofes — é isso o que nós queremos evitar”, disse Ernst Rauch, diretor do Corporate Climate Centre da Munich Re. A maior resseguradora do mundo sofreu um prejuízo de 1,4 bilhão de euros (US$ 1,63 bilhão) com o crescimento do número solicitações de pagamento após os furacões Harvey, Irma e Maria.
Contrariamente à visão de Warren Buffett de que as mudanças climáticas estimularão a demanda por cobertura e aumentarão os lucros de suas companhias de seguros, o risco é o contrário, já que a variação dos padrões climáticos faz com que seja impossível assegurar as áreas propensas a desastres. Encontrar maneiras de evitar isso está na agenda das conversações sobre o clima das Nações Unidas em Bonn, Alemanha, nesta semana.
Custos
O ônus dos custos de reconstrução após furacões, inundações e terremotos já recai desproporcionalmente nos governos.
As seguradoras arcam com apenas cerca de 10 por cento dos US$ 75 bilhões em danos causados no Texas pelas inundações provocadas pelo furacão Harvey, segundo a AIR Worldwide. Isso acontece porque a maioria das apólices de seguros padrão para propriedades nos EUA não cobrem as inundações que a maioria das apólices cobre. É um caso parecido com o de Fiji, atingido pelo pior ciclone de sua história no ano passado, onde menos de uma pessoa de cada dez possuía seguro.
Passos para se adaptar ao novo normal estão em andamento. Nas negociações desta semana na Alemanha, o G7 discutirá um plano para aumentar o acesso à cobertura direta e indireta de seguros contra as mudanças climáticas para 400 milhões de pessoas em países não desenvolvidos até 2020.
As seguradoras dos EUA estão demorando mais para se ajustar, em parte porque a questão está muito politizada, segundo Cynthia McHale, diretora de seguros da Ceres, um grupo de defesa da sustentabilidade em Boston. O presidente Donald Trump nega a existência das mudanças climáticas e retirou os EUA do acordo de Paris sobre o clima.
Essa atitude tem que mudar se o setor quiser estar preparado para a probabilidade de as mudanças climáticas causarem supertempestades mais frequentemente, segundo Rauch, da Munich Re.
“Aqueles que negam que algo está mudando na nossa atmosfera terão um problema maior no futuro porque não veem a necessidade de se adaptar”, disse ele. “Nossos clientes americanos entendem os números. Pode ser que eles não queiram ouvir falar sobre mudanças climáticas, mas eles olham os números e os números falam por si mesmos.”
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