Por Samy Adghirni e Carolina Millan.
Brasil e Argentina podem estar prestes a se livrar da merecida reputação de protecionistas se a União Europeia (UE) e o Mercosul finalmente assinarem um acordo de livre comércio após quase duas décadas de negociações.
As negociações entre os dois blocos comerciais estão bem encaminhadas, tanto que um diplomata sul-americano envolvido nas conversas calcula as chances de acordo em 70 por cento. Ainda restam grandes obstáculos, mas houve um avanço significativo na semana passada durante as negociações em Bruxelas, disse a pessoa.
Um acordo tem o potencial de transformar as economias relativamente fechadas e de tarifas elevadas do Brasil e da Argentina, os dois maiores integrantes do Mercosul, grupo que também inclui Uruguai e Paraguai. Nas lojas de Brasília e de Buenos Aires, um iPhone X custa pelo menos o dobro do valor praticado nos EUA, em parte devido às tarifas de importação historicamente elevadas dos países sul-americanos e aos subsídios às empresas locais. A eventual diminuição das barreiras do maior bloco comercial do mundo proporcionaria um impulso significativo para os dois países, que estão passando por dificuldades devido à recessão, considerando que o comércio bilateral anual já soma mais de US$ 100 bilhões.
“Se o Mercosul fechar um acordo dessa envergadura com a UE, será um game changer para a retomada econômica do Brasil e a da Argentina”, disse Matías Spektor, professor de relações internacionais da Escola de Administração da FGV no Brasil, acrescentando que o tratado sinalizaria para o resto do mundo uma recuperação de “10 anos de populismo econômico”.
Nos casos de Michel Temer e Mauricio Macri, presidentes do Brasil e da Argentina, respectivamente, um acordo consolidaria os esforços de abertura das duas economias, deixando um legado duradouro de reforma.
“O progresso nas negociações UE-Mercosul será positivo para os líderes pró-mercado da região”, disse Juan Cruz Díaz, diretor-gerente da empresa de assessoria de risco regulatório Grupo Cefeidas, com sede em Buenos Aires. “Um acordo será um forte sinal político que revigorará o Mercosul.”
Oficialmente, ambos os lados estão empenhados em fechar um acordo até o fim do ano, considerando que a comissária europeia do Comércio, Cecilia Malmström, disse a jornalistas em novembro que havia uma “chance realista” de acordo antes de 2018. Estão em andamento os preparativos para uma possível troca de ofertas e os estados-membros estão sendo consultados, disse um representante da Comissão à Bloomberg sob a condição de anonimato.
Macri, por sua vez, disse à Bloomberg News no mês passado que estava determinado a assinar um acordo neste ano.
Mas o presidente da França, Emmanuel Macron, disse a produtores rurais e produtores de alimentos, em outubro, que não tinha pressa nessas negociações.
Produtos e commodities agrícolas, áreas nas quais o Mercosul tem claras vantagens produtivas em relação à UE, podem ser o principal obstáculo, segundo Marco Maciel, economista da Bloomberg Intelligence no Brasil.
“O setor agrícola europeu é muito importante para a UE e tem lobbies fortes e influência sobre a comunidade e a política europeias”, escreveu.
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