Por Jeff Wilson e Tatiana Freitas.
Em uma época em pessoas de todo o mundo estão consumindo mais carnes, aves e laticínios do que nunca, talvez os agricultores americanos percam ainda mais terreno para o Brasil na disputa para alimentar todos esses animais.
Já se projetava que as exportações americanas de safras para ração cairiam neste ano por causa do aumento das vendas realizadas por produtores sul-americanos e europeus. Mas, após o clima péssimo no Centro-Oeste dos EUA neste ano, a safra rendeu soja com menos proteína, ingrediente fundamental que ajuda a aumentar a musculatura dos animais. O teor de proteína, 34,1 por cento por bushel, igualou o de 2008, o mais baixo desde que começaram as medições, em 1986, segundo dados do governo.
Muitos exportadores dos EUA têm que concorrer com a soja brasileira, cujo teor de proteína é superior – cerca de 37 por cento –, mas a diferença de qualidade cada vez maior poderia abalar ainda mais a demanda de lugares como a China, o maior comprador do mundo. Os exportadores brasileiros estão tentando tirar proveito dessa diferença para vender uma parte maior da safra recorde da temporada passada e aproveitar o aumento da capacidade exportadora, como novos portos no norte do país.
A soja brasileira está recebendo um prêmio pela qualidade, disse Sérgio Mendes, diretor geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec). Segundo ele, o Brasil tem um bom momento em razão da qualidade, que foi reconhecida e valorizada pelos chineses.
Participação em alta
A soja se tornou uma safra fundamental para a alimentação em todo o mundo porque é moída para extrair óleo vegetal, e a farinha de soja restante é usada como ração para o gado. Projeta-se que a participação do Brasil no mercado exportador vai bater um recorde nesta temporada, 43 por cento, e que a participação dos EUA vai cair para 39,7 por cento – apesar do nono aumento anual consecutivo da demanda, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA.
Nem tudo passa pela proteína. A farinha de soja americana tem aminoácidos mais digeríveis e menos variabilidade na composição do que a oferta do Brasil, da Argentina, da China e da Índia, segundo um estudo publicado neste ano na American Society of Animal Science. Aminoácidos são fundamentais para a produção de carne, e como a soja americana tem mais, ela tende a precisar de menos componentes sintéticos para atingir o melhor rendimento como ração, disse Seth Naeve, agrônomo da Universidade de Minnesota.
Contudo, a qualidade dos grãos brasileiros tem melhorado nas últimas duas temporadas graças a condições meteorológicas favoráveis e uma melhor administração de safras, disse Hugo Soares Kern, analista de soja da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
“O teor mais baixo de proteína na soja tem respaldado os preços em Chicago, porque as usinas precisam de mais soja para obter a mesma quantidade de proteína nas rações”, disse Vinícius Ito, analista da Ecom Trading em Nova York. “As exportações do Brasil receberam impulso por um diferencial na qualidade, mas também por uma oferta enorme.”
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