Por Gerson Freitas Jr.
A Camil Alimentos segue em busca de aquisições, e está disposta a usar dinheiro, ações ou uma combinação de ambos para viabilizar uma negociação, afirma seu principal executivo.
As perspectivas de crescimento da Camil, líder em arroz e feijão, são hoje limitadas pela demanda. Embora o consumo de arroz dos brasileiros seja, em média, três vezes maior que o dos americanos, por exemplo, a quantidade vem caindo ao longo dos anos, à medida que o aumento da renda leva as famílias a diversificar sua alimentação. Além disso, o potencial do mercado externo é relativamente pequeno, porque grandes consumidores, como a China, são praticamente autossuficientes. Em contrapartida, o setor ainda é bastante pulverizado no Brasil e oferece significativo espaço para expansão por meio de combinações de ativos.
O apetite da Camil por compras se dá num momento agitado na indústria de alimentos. Na semana passada, a M. Dias Branco comprou a fabricante de massas Piraquê por R$ 1,6 bilhão.
“A oportunidade de crescimento por meio de uma consolidação é gigantesca,” afirmou Luciano Quartiero, presidente da Camil, em uma entrevista. “Não é bobagem dizer que a companhia pode dobrar de tamanho em arroz.”
Pescados e açúcar
Nos últimos anos, a Camil entrou nos segmentos de pescados e açúcar por meio da compra da Coqueiro, que pertencia à PepsiCo, em 2011, e da Docelar, dona da marca União, junto à Cosan, no ano seguinte. Agora, a empresa está em busca de empresas que lhe garantam uma posição de liderança em café, farinha de trigo e massas. A Camil estreou na bolsa em setembro, com compra de parte das ações pelo fundo Templeton Global Smaller Companies, da Franklin Templeton, com uma carteira de US$ 1,2 bilhão.
A Camil analisa potenciais transações no Chile, Peru e Argentina, onde já atua, e também pretende entrar na Colômbia. O país de 52 milhões de habitantes é atraente para a Camil porque os colombianos comem quase tanto arroz quanto os brasileiros, e o setor lá é mais concentrado, explicou Quartiero. Juntas, Diana Corporación, Organización Roa Florhuila e Unión de Arroceros — todas de capital fechado — são responsáveis por 62 por cento das vendas de arroz na Colômbia, segundo um estudo de 2016 sobre a indústria local de arroz.
A Camil foi fundada em 1963 como uma cooperativa agrícola. Anos depois, foi comprada pelo pai de Quartiero, um ex-seminarista e caminhoneiro, que começou na Camil como um representante comercial no início da década de 1970. Mesmo após a oferta de ações do ano passado, a família Quartiero ainda é dona de aproximadamente 60 por cento da companhia, por meio de participações diretas e indiretas. A listagem na bolsa deve proporcionar maior flexibilidade para a empresa se engajar em fusões e aquisições, segundo seu presidente.
A companhia vem enfrentando obstáculos desde que registrou sua oferta de ações, em julho. As ações foram emitidas por R$ 9 cada, abaixo do intervalo de R$10,50 a R$13 pretendido inicialmente. Desde então, os papéis recuaram 13 por cento, para R$ 7,84, na contramão do Ibovespa, que subiu 7 por cento. A empresa é a mais barata entre seus pares, tomando-se como base a relação entre preço e lucro por ação. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (EBITDA) no trimestre encerrado em novembro foi 12 por cento menor do que um ano antes, desapontando analistas, devido a volumes menores e preços mais baixos para arroz e açúcar.
Embora a Camil seja vista como uma empresa sólida e com resultados pouco voláteis, investidores que esperavam o anúncio de uma aquisição relevante logo após a abertura de capital estão desapontados com a falta de notícias, disse Raul Grego Lemos, analista da Eleven Financial Research.
“A empresa deve ter um ano melhor adiante, mas também depende de sua capacidade de fazer um negócio que seja estrategicamente significativo para seu crescimento no Brasil e no exterior”, disse Lemos.
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