Por Josue Leonel e Vinícius Andrade.
Enquanto o mercado amplia as apostas em novo corte da Selic para nova mínima histórica de 6,5% em março, as taxas de juros de prazos mais longos ainda resistem em nível elevado, acima de 9,5%. Essa discrepância revela, além do risco eleitoral, o receio de que o mergulho da inflação visto desde 2017 seja apenas um fenômeno cíclico e transitório, favorecido pela baixa dos alimentos, num país com histórico de hiperinflação. Após a reforma trabalhista e restauração da credibilidade do Banco Central, faltaria ainda a reforma da Previdência para endossar os níveis menores de inflação e juros.
“Existe uma mudança estrutural. A questão é que esta mudança só é sustentável se houver a reforma da Previdência. E é aqui que entra a eleição”, diz José Márcio Camargo, economista da Opus Gestão de Recursos. Para o economista, que ajudou a elaborar o programa econômico do partido de Michel Temer, a queda da inflação de serviços é um reflexo da reforma trabalhista, que torna a economia mais flexível e já estaria impactando os preços.
Já a reforma da Previdência, considerada relevante para acertar a economia, passa a depender dos planos do próximo presidente, num cenário eleitoral totalmente indefinido.
Para Tony Volpon, economista do UBS e ex-diretor do BC, o Copom poderá cortar os juros para patamar muito menor do que o estimado caso o cenário evolua para uma inflação baixa mais estrutural e ameace fechar novamente abaixo do piso da meta este ano, obrigando o BC a ter de enviar carta explicando o fato à Fazenda pelo segundo ano seguido.
Neste caso, a taxa poderia ir até o patamar de 5%, diz Volpon, embora advertindo que este não é o cenário básico. Ele acredita que o país pode estar vivendo um movimento longo de queda da inflação, provocado pela recessão duradoura dos anos anteriores, mas ainda sem caracterizar um claro processo estrutural.
Para Marco Oviedo, chefe de pesquisa econômica do Barclays, tanto o fator estrutural quanto o cíclico são atualmente responsáveis pelos baixos níveis da inflação. O governo aprovou algumas reformas positivas para a economia que devem ajudar a reduzir um pouco da dominância fiscal vista nos anos anteriores. No entanto, o componente cíclico é provavelmente mais relevante, avalia o economista. “Até que as questões fiscais sejam resolvidas, nós não podemos dizer que, estruturalmente, os juros devem permanecer baixos”, diz.
Um ponto que poderia consolidar um cenário mais estrutural é a formalização da autonomia do Banco Central – até porque o aumento da credibilidade da autoridade monetária sob a gestão de Ilan Goldfajn é considerado um passo relevante nesse caminho.
“Hoje, temos autonomia de fato, mas, como não é de direito, não é formal, ainda ficamos sujeitos à incerteza sempre que estamos próximos ao ciclo eleitoral”, diz Rodrigo Abreu, economista-chefe da Caixa Econômica Federal Asset.
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