Por Samuel Potter e Natasha Doff.
Neste início do segundo trimestre, a principal pergunta dos investidores globais não é onde estão os maiores ganhos e sim como evitar as maiores perdas.
O principal índice do mercado acionário dos EUA e o índice agregado Bloomberg Barclays de renda fixa registraram quedas trimestrais pela primeira vez desde meados de 2016. Títulos de dívida de mercados emergentes denominados em dólar também amargaram perdas, assim como um índice que acompanha commodities. Entre os principais ativos globais, as bolsas de países em desenvolvimento se sobressaíram com ganhos no trimestre, mas também recuaram em fevereiro e março.
O cenário desolador é brutalmente diferente do que se viu nos últimos anos, quando ações, títulos e outros ativos caminhavam harmonicamente na mesma direção ascendente, em um ambiente de dinheiro fácil e crescimento global sincronizado. Nas últimas semanas, os mercados foram abalados por preocupações referentes ao aperto da política monetária, a uma potencial guerra comercial e ao tombo das ações de empresas de tecnologia.
“Nem sempre existe um esconderijo”, lamentou David Schawel, diretor de investimentos da consultoria Family Management, em um blog. “Até certo ponto, os investidores estavam acostumados à heurística de que, se as bolsas caem, os títulos se valorizam. Embora a narrativa da fuga para ativos de qualidade funcione de vez em quando, nem sempre é verdadeira.”
Os principais ativos decepcionaram de várias maneiras no primeiro trimestre:
Ações sofridas
Seja onde for, quem investiu em bolsas de países desenvolvidos nos primeiros três meses de 2018 provavelmente perdeu dinheiro. As bolsas dos EUA e da Alemanha sofreram quedas particularmente dolorosas em dólares. Uma leve alta da bolsa japonesa ajudou o principal índice do mercado asiático, mas não a ponto de impedir um saldo negativo no fim do período.
Nuvens no mercado de crédito
No primeiro trimestre, saíram aproximadamente US$ 9,7 bilhões dos fundos negociados em bolsa (exchange-traded funds ou ETFs) que acompanham títulos corporativos globais, segundo dados compilados pela Bloomberg. No caso do maior ETF de papéis com grau de investimento dos EUA, foi o pior trimestre da história em termos de resgates.
As taxas de retorno foram prejudicadas pelo fluxo. O índice Bloomberg Barclays de títulos corporativos dos EUA caiu 2,3 por cento nos primeiros três meses do ano.
O peso dos metais de base
A aversão a risco favoreceu o ouro, que subiu 1,7 por cento entre janeiro e março. O petróleo do tipo WTI também avançou pelo terceiro trimestre consecutivo, graças a cortes de produção e demanda robusta.
Mesmo com esses ganhos, as commodities como um todo não registraram desempenho positivo no período. O índice Bloomberg de matérias-primas recuou 0,8 por cento no trimestre, prejudicado especialmente pelos metais de base.
A queda de preços das commodities mostra que faltam lugares para o investidor se proteger, de acordo com Schawel.
“Olhando para os últimos 30 anos, em períodos de queda para ações e títulos, as commodities tiveram desempenho positivo em cinco entre oito ocasiões e o ouro teve performance positiva em metade das ocasiões”, ele escreveu.
O lado bom
Além do ouro, o iene – outro ativo considerado porto seguro – proporcionou retorno decente nos turbulentos primeiros meses do ano. Surpreendentemente, alguns dos ativos mais arriscados também.
Títulos de dívida de mercados emergentes denominados em moeda local geraram retorno de quase 3 por cento e as ações de países em desenvolvimento também registraram altas.
Uma pesquisa da Bloomberg mostra que investidores e estrategistas continuam otimistas em relação aos ativos de países emergentes durante o resto de 2018, em vista das condições econômicas saudáveis. Ainda assim, com a intensificação das medidas protecionistas pelo presidente americano, Donald Trump, esse segmento do mercado global também pode passar apuros.
“Da perspectiva tática, épocas como esta fazem com que o investidor médio questione o que detém e se pergunte o que deve fazer”, disse Schawel.
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