Por Josue Leonel e Davison Santana
Com o dólar no maior patamar em mais de dois anos, a principal questão do mercado passa a ser: qual nível do câmbio levaria o Banco Central a elevar taxa Selic?
A maioria dos analistas ainda duvida de uma alta da taxa básica no Copom de junho, mas a curva de juros já precifica mais de 50% de chance de elevação na reunião deste mês e um aumento acumulado de mais de 1 ponto porcentual até dezembro. Uma escalada continuada do dólar, para perto de R$ 4,00, elevaria as chances de aperto monetário. Outra condição para o BC atuar seria o câmbio atingir a inflação, como já começa a aparecer em alguns índices.
Nas últimas semanas, o dólar tem superado seguidas resistências técnicas e a próxima é de R$ 3,84. Se ela for superada, a marca seguinte a ser buscada é de R$ 4,00. Por ora, o instrumento prioritário do Banco Central devem ser os leilões de swaps, que não impedem a alta da moeda mas atendem à demanda por proteção de investidores preocupados com as incertezas domésticas agravadas pela greve dos caminhoneiros em um cenário de alta dos juros externos.
A questão sobre que nível do dólar será gatilho para a Selic é a única que interessa agora aos investidores que aplicam no juro brasileiro, diz Rishi Mishra, analista da Futures First. Para ele, o BC retomará a alta da Selic, com uma elevação emergencial de 0,50 ponto porcentual, se a moeda americana se aproximar de R$ 4,00. Mesmo que a expectativa de inflação não piore muito, manter a estabilidade cambial é um mandato implícito de qualquer BC, lembra Mishra.
Nas últimas semanas, BCs de países emergentes importantes, como Argentina e Turquia, tiveram de subir os juros para combater a inflação e também a escalada do dólar sobre suas moedas. Embora o Brasil tenha contas externas mais equilibradas e inflação abaixo da meta, o elevado déficit público põe o país na berlinda em um momento de redução da liquidez global.
O primeiro passo para o BC é exaurir a possibilidade de intervenção no câmbio com swaps, com os leilões de linha também podendo ser usados em caso de fluxo negativo, diz Gustavo Rangel, economista do ING em Nova York. Junho ainda é muito cedo para o Copom agir, mas se o dólar seguir subindo o BC poderia já no comunicado desta reunião alterar sua mensagem, admitindo uma deterioração do quadro externo, segundo Rangel. O BC não falaria diretamente em alta do juro, mas o mercado poderia entender a sinalização como tal.
Para Mariana Guarino, gestora da Truxt Investimentos, se houver impacto inflacionário, o BC pode agir em um nível de câmbio não tão alto. “Mas a princípio, não é o que esperamos, a grande ociosidade da economia deve contribuir para um pass-through mais baixo neste momento.”
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