Por Patricia Lara e Felipe Saturnino
O esperado vento favorável está cada vez mais longe de soprar sobre a economia do Brasil. Caminhando para uma eleição sem que candidatos vistos como reformistas despontem com força em pesquisas, as perspectivas para crescimento da maior economia da América Latina começam a ficar mais fracas também para 2019, enquanto o patamar de expansão de 3% vislumbrado anteriormente pelo governo para este ano fica cada vez mais distante.
“Estava todo mundo esperando uma desaceleração e a greve tomou alguns pontos do PIB e só fez acelerar o processo. A impressão que dá é que as projeções vão ainda cair mais para 2018 e 2019”, diz Jayro Rezende, chefe de tesouraria do Banco da China Brasil. Pesquisa Focus divulgada nesta manhã trouxe a primeira revisão em baixa das projeções para o PIB de 2019 após 18 semanas de estabilidade. A mediana das expectativas para o crescimento de 2019 recuou de 3,0% para 2,8%, enquanto a para o PIB de 2018 cedeu de 2,18% para 1,94%.
Rezende diz que o mercado vai perdendo a fé de que algum dos candidatos será capaz de trazer novidade que possa indicar uma perspectiva melhorada. “Nos últimos dois anos, o Brasil está perdendo uma janela de oportunidade para fazer um conserto. Vamos esperar que um milagre ocorra e que surja alguém que tenha coragem e desprendimento”, diz.
“Recentemente, tivemos piora das condições financeiras e a greve dos caminhoneiros, cujo impacto ainda é incerto na magnitude. Assim, é natural que as estimativas de PIB sejam revisadas”, diz Mauricio Oreng, estrategista-sênior do Rabobank. “Dependendo das eleições e de quando o mercado se der conta de que as reformas não sairão, haverá a visão para um PIB mais lento — e aí poderemos crescer ano que vem até menos do que neste ano”.
Alguns dados sobre o efeito da greve começam a sair. O fluxo pedagiado de veículos apresentou queda de 15% na passagem de abril para maio, conforme divulgado na última sexta-feira pela Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR). Com ajuste sazonal, trânsito de veículos pesados teve tombo de 27,7% m/m.
“Esse resultado e outros indicadores coincidentes já conhecidos indicam uma forte retração da produção industrial em maio”, diz Bradesco em relatório matutino na manhã desta segunda-feira. A Anfavea também acusou o impacto. O setor deixou de produzir 70.000-80.000 unidades com greve, disse Antonio Megale, presidente da Anfavea, em 6/de junho.
Enquanto os analistas ainda trabalham com um crescimento contratado derivado do ciclo de alívio que trouxe a Selic à mínima histórica de 6,50%, a curva de juros já expõe uma situação contracionista para a economia. “Toda essa pressão de alta nos juros é contracionista, e contraria a política expansionista do BC”, diz Oreng.
“Antes, estávamos num terreno estimulativo, mas agora com, curva de juros, CDS e bolsa, estamos num terreno contracionista”, disse Carlos Kawall, economista-chefe do Safra, no dia 5/junho
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