Por Isis Almeida e Tatiana Freitas
A disputa comercial entre EUA e China está agitando o mercado global da soja e pode fazer o Brasil, maior exportador da commodity, recorrer a importações.
Como os prêmios brasileiros estão se beneficiando com a briga, o país pode aproveitar e ampliar as vendas à maior importadora, a China. Mas para isso terá que recorrer ao farelo de soja da vizinha Argentina, um ingrediente importante e necessário para alimentar a indústria aviária brasileira, segundo o JPMorgan Chase.
O Brasil poderia até mesmo avaliar a importação de soja a um preço menor que o de exportação, disse André Pessôa, presidente da Agroconsult em São Paulo.
A tensão comercial que sacudiu o mercado agrícola nos últimos 30 dias aumentará se o presidente dos EUA, Donald Trump, aplicar tarifas a US$ 34 bilhões em produtos chineses na sexta-feira, conforme o planejado, medida para a qual a China promete retaliação equivalente. Os EUA são o segundo maior fornecedor de soja para a China e as remessas podem ser reduzidas a menos da metade se as tarifas forem aplicadas. Isso beneficiaria o Brasil, que já é o maior fornecedor para a China.
“Precisaremos trazer farelo de soja da Argentina para o Brasil” para atender à demanda por ração, disse Tracey Allen, analista do JPMorgan em Londres. “Sendo realista, essa é a única forma de possibilitar o fluxo máximo de exportação de soja do Brasil para a China e de atender à demanda interna.”
Devido à queda dos preços da soja dos EUA, o prêmio obtido pelo grão brasileiro sobre os contratos futuros em Chicago já dobrou. Para tirar vantagem disso, o Brasil pode tentar importar uma oferta mais barata de outros lugares, tanto para esmagar no país quanto para reexportar, disse Pessôa.
O Brasil poderia aumentar as importações do Paraguai na próxima safra, disse Ana Luiza Lodi, analista da corretora INTL FCStone em Campinas, São Paulo. É menos provável que ocorram importações dos EUA devido ao custo elevado do frete, disse ela. Uma tarifa de importação de 8 por cento aplicada à soja americana também aumenta o custo das transações.
“Será muito caro transportar grãos dos EUA para as instalações de esmagamento do interior do Brasil, porque elas normalmente ficam perto das regiões agrícolas do Mato Grosso e de outros estados onde os grãos são produzidos”, disse Allen, do JPMorgan. “Veremos certo volume de soja vindo dos EUA para o Brasil, mas não creio que este venha a ser o fluxo de comércio dominante.”
Para atender à demanda do Brasil por farelo de soja, a Argentina, assolada pela seca, pode precisar importar soja dos EUA, e há sinais de que isso já esteja acontecendo. A Argentina se comprometeu a comprar 540.000 toneladas dos EUA na safra 2018-19, que começa em setembro, total que se soma à compra de 89.000 toneladas desta temporada, segundo dados do Departamento de Agricultura dos EUA.
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