Por Liz Capo McCormick e Lu Wang com a colaboração de Andrew Mayeda, Annie Massa e Erik Schatzker.
Mais e mais especialistas alertam que os mercados financeiros estão confiantes demais diante do que a ameaça de uma guerra comercial instigada pelos EUA representa para a produção mundial e os preços dos ativos.
O Fundo Monetário Internacional se juntou ao grupo na segunda-feira, seguindo investidores como Larry Fink e avisando que a tensão comercial pode atrapalhar o atual panorama de baixa volatilidade nos mercados de ações e títulos e limitar o crescimento econômico. Para o megainvestidor Paul Tudor Jones, a lista de preocupações também inclui a elevação dos custos de captação e o alargamento dos déficits nos EUA.
A palavra complacência entrou de vez na conversa dos veteranos do mercado financeiro. As ações se valorizaram por três meses consecutivos nos EUA e uma métrica das oscilações nos rendimentos dos títulos está próxima do menor nível em registro. No entanto, Fink, presidente da BlackRock, acha que as bolsas podem cair de 10 a 15 por cento se o governo do presidente Donald Trump de fato aplicar tarifas sobre mais US$ 200 bilhões em produtos importados da China. O HSBC Holdings acredita que o protecionismo é mais um fator que atrapalha os ativos de risco.
“Vemos há algum tempo um cenário parecido com o do FMI sobre os ativos de risco, que chamamos de aperto de crédito em câmera lenta”, disse Steven Major, responsável global por pesquisa de renda fixa no HSBC. Segundo ele, o crescimento é ameaçado por fatores como a alta da taxa básica de juros nos EUA, a escalada da guerra comercial e o encarecimento da energia. “Provavelmente isso ocorrerá por meio da deflação gradual dos ativos sobrevalorizados — aqueles que foram mais distorcidos pelo estímulo quantitativo.”
Em risco
Na opinião dele, os ativos mais ameaçados são ações, títulos com grau de investimento e instrumentos financeiros de mercados emergentes.
“Há alguma complacência, com a volatilidade tão baixa”, avalia Gene Tannuzzo, gestor de carteiras da Columbia Threadneedle Investments, que supervisiona US$ 4,3 bilhões. “Há chance de alta das taxas, mas em um desfecho ruim na situação comercial, por exemplo, as taxas podem cair muito.”
Referência do mercado, o rendimento do título do Tesouro americano com prazo de 10 anos subiu em maio para perto do maior nível em sete anos, porém recuou para menos de 3 por cento. A tensão comercial faz com que estrategistas questionem previsões de alta nessa taxa. A projeção mediana da pesquisa Bloomberg é 3,15 por cento no final do ano.
A história não inspira confiança em relação a uma recuperação dos preços das ações em relação a fevereiro, quando o S&P 500 teve o mais rápido movimento de correção de um pico para um ponto mínimo desde 1950.
No entanto, animados pela expansão dos lucros das empresas americanas e três meses seguidos de ganhos nas bolsas, gestores de fundos de renda variável não parecem tão preocupados.
O posicionamento deles mostra que estão só um pouco menos otimistas do que nos dias que antecederam o começo da queda.
A demora na recuperação das perdas de fevereiro incomoda. A gestora de recursos Leuthold Group contabilizou 33 movimentos de queda nas últimas sete décadas que começaram tão violentos quanto o atual e se reverteram rapidamente. Somente um demorou tanto quanto este.
Ou seja, quanto mais tempo levar para o S&P 500 voltar à máxima atingida em janeiro, mais provável que fevereiro e março sejam apenas o prenúncio de um tombo ainda maior neste ano.
Para Fink, da BlackRock, o raciocínio é simples: se Trump de fato aplicar a próxima rodada de tarifas contra a China, “todas as apostas saem da mesa” quanto à perspectiva para o crescimento econômico.
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