Notícia exclusiva por Josué Leonel, Editor na Bloomberg.
Ainda que o governo e o Banco Central tenham sucesso na correção dos erros passados, não assumidos oficialmente, o Brasil dificilmente escapará de seguir com crescimento econômico fraco nos próximos anos. Este é o cenário tido como mais provável. E não é o pior.
Os economistas do mercado pesquisados pela Bloomberg projetam crescimento de 1% em 2016 e 2% em 2017, após uma recessão de 1,2% este ano. “Estamos prevendo um crescimento em média inferior a 2% para entre 2016 e 2018. Este é o cenário mais provável, de não resolvermos todos os nossos problemas e continuarmos com um desempenho medíocre”, diz Gustavo Loyola, ex-presidente do BC e sócio da Tendências Consultoria.
Este cenário medíocre, na verdade, já representa um avanço perto da turbulência vivida em março, quando receios de fracasso do ajuste fiscal e de default da Petrobras levaram o dólar a disparar e a bolsa a despencar. ’’O Brasil estava caminhando para o desastre, mas voltamos a trilhar um caminho mais racional’’, diz Loyola sobre as mudanças nas políticas fiscal e monetária.
“A política macroeconômica melhorou de qualidade com a gestão fiscal do Levy e as mudanças na atuação do BC”, diz Loyola, que comandou o Banco Central nos primeiros anos do Plano Real, de 1995 a 1997. Essa melhora de orientação, contudo, não assegura sozinha a retomada do crescimento nem mesmo no médio prazo.
A correção dos erros dos anos anteriores implica a necessidade de o governo promover ajustes duros nas políticas fiscal e de crédito e, ao mesmo tempo, subir os juros e as tarifas públicas. “Em um cenário em que a atividade já está muito fraca, estamos tendo de fazer um ajuste recessivo.‘‘
O ajuste que o Brasil está fazendo é o que os economistas chamam de ’’política pró-cíclica”, na qual são tomadas medidas que acentuam um processo já em andamento, o que, no caso atual, é a recessão. O Brasil conquistou, por um curto período, a capacidade de fazer ’’política anti-cíclica’’ em 2008 e 2009. Na época, BC e governo agiram para evitar o efeito da crise global, que chegou no Brasil como ’’marolinha’’, como disse o ex-presidente Lula.
Erros cometidos a partir de então, com o excesso de estímulos e gastos públicos, além da tolerância com a inflação, fizeram o Brasil perder esta capacidade de agir na contramão da crise, afirma Loyola.
A retomada do crescimento dependeria de outras ações, além da alta dos juros e dos cortes de gastos, como a melhora do marco regulatório. As concessões de infraestrutura são um passo necessário. Loyola considera que o plano anunciado esta semana deveria ter sido mais ousado. Entre as ressalvas, aponta a ausência do setor de óleo e gás, a concentração em leilões a serem realizados no longo prazo e a inclusão de projetos de viabilidade questionada, como a ferrovia Brasil-Peru.
Loyola considera que um cenário mais desastroso para a economia, como o antevisto em março, tornou-se menos provável, ainda que não possa ser totalmente descartado. O risco de perda do grau de investimento, por exemplo, ainda existe e poderia ser o catalizador de um aprofundamento da crise.
O cenário político também é uma ameaça ao cenário econômico. “O Congresso tem mostrado ativismo, mas nem sempre no sentido de aprovar medidas positivas para a economia”, diz Loyola. Além disso, ele vê com preocupação as iniciativas do PT de atacar o ajuste fiscal e preparar a candidatura de Lula em 2018 com uma possível plataforma anti-reformas.
Esses movimentos políticos aguçam um dos principais pontos de incerteza do mercado, que é sobre se haverá ou não perseverança do governo e das forças políticas na responsabilidade fiscal e na correção de rumos que tem sido implementada a duras penas. “O risco é a recaída no populismo”, diz Loyola. “O Levy faz todo o trabalho duro e vem outro para desmanchar?”
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