Por Jen Skerritt e Megan Durisin.
Enquanto a maioria dos mercados agrícolas teve um 2018 medíocre, o trigo subiu. Mas aparentemente o avanço pode ser efêmero.
O trigo pode acabar se tornando vítima do próprio sucesso. Como o preço está mais atraente do que o de culturas concorrentes, há sinais de que produtores de todo o mundo estejam ampliando as áreas de plantio pela primeira vez em quatro anos. A expectativa é que esse aumento amplie a oferta global em meio à demanda morna.
O Rabobank International classificou o trigo como commodity com maior tendência de queda no próximo ano, projetando que os preços atingirão o pico no primeiro trimestre de 2019. Os fundos de hedge apostam na queda dos preços do grão desde meados de setembro.
Haverá “muita oferta de trigo”, disse Brian Hoops, analista sênior de mercado da Midwest Market Solutions em Springfield, Missouri, por telefone. Para que os preços subissem, teria que ocorrer “um problema de safra em algum lugar do mundo”, disse.
Avanços do trigo
O trigo se destacou em 2018. Os preços caminham para um ganho de 23 por cento, melhor desempenho entre as 11 commodities agrícolas do Bloomberg Commodity Index. Os estoques mundiais estão encolhendo após anos de abundância, e o grão se tornou a menina dos olhos dos produtores quando a incerteza comercial entre EUA e China afetou a soja e os ganhos do milho diminuíram.
Grande parte da alta foi provocada pela seca na Europa e na região do Mar Negro, o que aumentou a preocupação em relação às exportações. A Rússia, maior vendedora do mundo, colheu uma safra menor pela primeira vez em seis temporadas. As preocupações com o clima ajudaram a elevar os preços ao maior patamar em três anos em agosto.
O aumento do preço estaria estimulando os produtores a plantar 0,7 por cento mais trigo na safra 2019-2020, inclusive na Rússia e na União Europeia, informou o Conselho Internacional de Grãos (IGC, na sigla em inglês), em relatório de novembro. A expectativa é que os produtores americanos aumentem a área plantada em pelo menos 1 milhão de hectares, e as perspectivas são “pessimistas” porque não se espera um novo ano de problemas de oferta relacionados ao clima, segundo relatório de 27 de novembro do Société Générale.
Mesmo se houver uma disponibilidade menor no Mar Negro e os compradores recorrerem à Europa e aos EUA, a oferta global será reposta porque a Argentina colherá sua enorme safra no começo de 2019, disse Arlan Suderman, economista-chefe de commodities da INTL FCStone em Kansas City. Com a recuperação da produção na Austrália, na Europa e no Mar Negro mais para o fim do ano, será mais uma vez “difícil” encontrar destino para as exportações de trigo dos EUA, disse ele. Nesta safra, os compromissos de exportação dos EUA estão 11 por cento abaixo do ritmo do ano passado, segundo dados do governo.
Em meio à demanda fraca, os estoques dos EUA deverão atingir 965 milhões de bushels, segundo a estimativa média dos analistas em uma pesquisa da Bloomberg. O total é maior do que os 949 milhões previstos pelo governo no mês passado. O Departamento de Agricultura dos EUA divulga o relatório de Estimativas de Oferta e Demanda Agrícola Mundial nesta terça-feira em Washington.”
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