Por Cristiane Lucchesi.
O Brasil provavelmente será responsável por uma parcela ainda maior dos ganhos com comissões de bancos de investimento na América Latina no ano que vem, e os banqueiros estimam que a receita na região chegará a US$ 2 bilhões pela segunda vez em três anos.
“Estávamos em compasso de espera no Brasil, com algumas transações suspensas até que as eleições nos dessem o sinal verde”, disse Alberto Pandolfi, responsável pelo banco de investimentos do Citigroup na América Latina. “Agora nós temos esse sinal, e há muito entusiasmo e otimismo no setor privado”, disse Pandolfi, cujo banco foi um dos três principais colocados no ranking de receita com comissões na região este ano, de acordo com a empresa de pesquisa Dealogic.
Após a votação de outubro espantar a nuvem que pairava sobre a maior economia da região, o Brasil deve dominar os negócios na América Latina nos próximos meses ainda mais do que o habitual, segundo entrevistas com executivos de bancos de investimento. Eleições no Brasil, no México e na Colômbia, juntamente com a crise econômica da Argentina, cortaram a receita com assessoria em fusões e aquisições e com a liderança na emissão de dívidas e ações este ano. O total de comissões caiu para US$ 1,43 bilhão até 12 de dezembro, cerca de 30 porcento menos que os US$ 2 bilhões gerados em todo o ano de 2017, mostram dados da Dealogic.
A partir de 2019, o otimismo no Brasil está centrado em Paulo Guedes, o “super-ministro” da economia do novo governo.
A equipe dele parece ter “o diagnóstico certo sobre o que precisa ser feito”, disse Martin Marron, responsável pelo banco de investimento do JPMorgan Chase na América Latina. Ao mesmo tempo, a determinação do governo em investigar, por meio da operação Lava Jato, a corrupção ocorrida por vários anos, “fala muito bem sobre a qualidade das instituições no Brasil”, disse Marron, cujo banco saltou do quarto lugar, em 2017, para o primeiro em receita com comissões na América Latina este ano.
Além dos cerca de US$ 33 bilhões em transações suspensas no Brasil e que podem deslanchar agora, o governo está planejando privatizações que irão se somar ao total. A meta do novo governo é vender o controle de cerca de 140 empresas estatais, entre as 150 que operam atualmente, incluindo a Petrobras Distribuidora, disse o vice-presidente eleito, Hamilton Mourão. Os banqueiros estão otimistas com esses planos, mesmo reconhecendo obstáculos para implementá-los e lamentando a falta de coordenação mostrada até agora por parte da equipe que está chegando ao governo.
Mesmo com as eleições de outubro, o Brasil respondeu por US$ 714 milhões em receitas de banco de investimento neste ano, ou cerca de 50 porcento do total para a América Latina, acima dos 46 porcento do ano passado, segundo a Dealogic.
Mercado de IPO
As ofertas públicas iniciais de ações de empresas brasileiras de tecnologia em Nova York contribuíram para o total, disse Facundo Vazquez, co-responsável de mercado de capitais/renda variável da América Latina para o Goldman Sachs Group, o banco de investimento líder no ranking de receita no Brasil neste ano.
“Quando estávamos vendendo um IPO duas semanas antes da eleição, muitas pessoas no Brasil estavam em pânico, ligando para mim e perguntando: ‘Você realmente vai lançar essa transação?’”, disse ele, referindo-se à Arco Platform Ltd., uma empresa de educação que conseguiu levantar com sucesso US$ 220 milhões em setembro. O primeiro turno das eleições no Brasil foi em 7 de outubro.
Com o Brasil “ganhando momentum e impulsionando um sentimento mais positivo na região, esperamos que economias como Peru, Chile e Colômbia sejam mais ativas tanto em fusões e aquisições quanto em mercados de capitais”, disse Pandolfi, do Citigroup. O banco com sede em Nova York ficou em primeiro lugar no ranking de liderança de emissão de títulos da dívida externa na América Latina neste ano, segundo dados compilados pela Bloomberg.
Obstáculos no México
No México, o cancelamento de um aeroporto estimado em US$ 13 bilhões, que já foi parcialmente construído, e a suspensão de uma rodada de licitações em concessões de exploração de petróleo estão afetando o sentimento. Os banqueiros dizem que esperam mais volatilidade nos mercados de dívida e de ações.
Mas as atividades de fusões e aquisições podem crescer à medida que negócios que ficaram parados por causa das eleições de julho poderão “ressurgir novamente no ano que vem”, disse Augusto Urmeneta, responsável pelo banco de investimento do Bank of America na América Latina.
“A economia do México é muito vinculada à economia dos EUA, que está indo muito bem, e eles têm um novo acordo comercial”, disse Urmeneta. O acordo pode ajudar a segunda maior economia da América Latina, estimulando a criação de empregos e um reforço do setor de consumo, enquanto, ao mesmo tempo, o volume de remessas de dinheiro dos trabalhadores mexicanos nos EUA para suas casas no México provavelmente aumentará, disse ele.
“As negociações de fusões e aquisições estão aumentando no México, em setores como infraestrutura, consumo e indústria”, disse Max Ritter, responsável por fusões e aquisições do Goldman Sachs na América Latina. “Há também empresas locais que querem diversificar, para terem exposição a mercados fora do México”.
Economia da Argentina
A Argentina enfrentará outro ano desafiador em 2019, com a aproximação das eleições presidenciais e a economia em contração de 2,3 porcento em 2018, de acordo com estimativas compiladas pela Bloomberg. O Fundo Monetário Internacional aprovou uma linha de crédito de US$ 56,3 bilhões em outubro, depois de fornecer US$ 50 bilhões em junho. As ofertas de ações caíram 75 porcento em 2018 em relação ao ano anterior, para US$ 1,27 bilhão, segundo dados compilados pela Bloomberg, enquanto a emissão de títulos da dívida no mercado internacional foi 46 porcento menor, totalizando US$ 13,5 bilhões.
Ainda assim, operações estruturadas podem ajudar empresas necessitadas. O MercadoLibre INC teve de rolar parte de sua dívida e foi capaz de emitir um bônus conversível de US$ 880 milhões com vencimento em 2028, pagando 2%, em uma transação em agosto liderada por JPMorgan e Goldman Sachs.
Os estressados mercados de ações e de dívida dos EUA e os possíveis aumentos da taxa de juros pelo Federal Reserve não serão um obstáculo para as atividades de bancos de investimento na América Latina no próximo ano, disse Urmeneta.
“Eu não vejo os mercados dos EUA em turbulência, mas apenas passando por uma correção, e os juros estão sendo elevados em um ritmo muito gradual pelo Fed”, disse ele. “Os mercados emergentes não serão muito afetados”. Países como o Brasil e o Peru têm endividamento externo negativo, muitas reservas internacionais e são menos dependentes dos mercados internacionais, disse ele.
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