Por Daniela Guzman.
Quando Alex Tabor fez sua primeira viagem a Pequim em 2014, o executivo brasileiro estava preocupado com a comunicação. Tabor não fala mandarim, mas tinha esperanças de (com a ajuda de um tradutor) poder transmitir uma coisa: a enorme oportunidade para as empresas chinesas que queriam investir em empresas de tecnologia da América Latina.
Lá, ele teve reuniões com funcionários da Baidu, o maior motor de buscas on-line da China, na esperança de levantar capital para seu hub de descontos na internet, o Peixe Urbano. Tabor já estava focado em ter um negócio maior — um que pudesse vender diretamente para os usuários, em vez de só postar descontos. A Baidu se interessou e adquiriu uma participação majoritária.
Enquanto os EUA recuavam, o investimento estrangeiro direto da China na América Latina e no Caribe disparou nos últimos dez anos, segundo um relatório de 2018 da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal). A China injetou cerca de US$ 90 bilhões na região entre 2005 e 2016. Com uma ênfase crescente nas telecomunicações, o investimento chinês em tecnologia emergente é cada vez mais o principal combustível por trás do boom tecnológico da América Latina.
A longo prazo, Pequim quer consolidar acordos com países ricos em recursos — uma necessidade fundamental para a indústria chinesa — e com uma demanda crescente de consumo. Muitas vezes, esses países e suas empresas de tecnologia estão em busca da expertise — e do dinheiro — chineses.
“Fiquei muito animado quando vi a oportunidade com investimento e orientação da China”, disse Tabor durante uma entrevista recente em Nova York. “Historicamente, a América Latina buscou negócios no Vale do Silício e em Nova York, mas há inovações na China que podem ser ainda mais aplicáveis à realidade latino-americana.”
Investimentos
Em 2015, o governo chinês anunciou um plano de dez anos para aumentar o comércio com a América Latina para US$ 500 bilhões e os investimentos para US$ 250 bilhões. Em 2017, o comércio entre as duas regiões ficou em US$ 266 bilhões.
Os gigantes da tecnologia da China querem se envolver na explosão tecnológica da América Latina e estão chegando com dinheiro. Segundo um relatório da Cepal, as empresas chinesas foram as maiores investidoras na região em 2017, com cerca de US$ 18 bilhões — e representaram 42 por cento do volume da região.
Entre eles estão a empresa de transporte compartilhado Didi Chuxing, que comprou a brasileira 99 Táxis por um valor não revelado e também se expandiu para o México. A TCL, uma empresa de tecnologia chinesa com uma subsidiária na Argentina, entrou em uma joint venture com a Radio Victoria, uma das maiores fabricantes de produtos eletrônicos de consumo do país. A Huiyin Blockchain Venture liderou uma rodada de financiamento para a Ripio, um serviço argentino de pagamento em bitcoins. E a chinesa Tencent investiu US$ 180 milhões na Nubank, uma startup de tecnologia financeira com sede em São Paulo que tem cinco milhões de clientes e um dos cinco principais cartões de crédito do Brasil.
Nathan Lustig, 33, sócio da Magma Partners, ajudou a lançar um acelerador China-Latam em janeiro do ano passado, buscando conectar donos de empresas, investidores e funcionários do governo de ambas as regiões. Em 2018, a investidora de capital de risco de Santiago organizou dez oficinas em Pequim e Xangai, com temas rotativos entre empresas do Panamá à Argentina.
“Neste momento, estamos no ponto de inflexão”, disse Lustig. “Há uma tendência massiva a imitar a China porque há dez anos eles resolveram os mesmos problemas com os quais a América Latina está lidando agora: pessoas sem conta em banco, sem crédito, sem telefone e que de repente têm smartphones.”
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