Por Lyubov Pronina e Aline Oyamada.
A volta do apetite por risco desencadeou uma onda inesperada de emissões de bônus por países emergentes. A pergunta é por quanto tempo essa janela de oportunidade vai ficar aberta.
Governos de nações em desenvolvimento levantaram US$ 19 bilhões nas primeiras três semanas do ano, com a maior captação sendo feita pela Arábia Saudita. Segundo dados compilados pela Bloomberg, o volume é menor do que o do mesmo período do ano passado, mas é mais do que investidores e bancos de investimento previam, considerando o tombo dos ativos emergentes no ano passado, que ampliou os spreads dos bônus para o maior nível desde 2016.
Os investidores são atraídos para os títulos de nações em desenvolvimento pelos preços mais atraentes após tantas perdas, além de expectativas de pausa no aperto monetário nos EUA e a esperança de que o governo americano chegue a um acordo comercial com a China.
Mas a perspectiva para esse mercado é bastante incerta. As preocupações em relação ao crescimento global se intensificaram, principalmente após o Fundo Monetário Internacional (FMI) baixar a projeção para a expansão da economia mundial, esperando o ritmo mais lento em três anos.
“Foi um bom começo de ano e provavelmente melhor do que a maioria esperava”, disse Stefan Weiler, responsável por mercados de capitais de dívidas para Leste Europeu, Oriente Médio e África do JPMorgan Chase, líder na coordenação de operações na região, segundo rankings da Bloomberg. “A lição aprendida no último ano é aproveitar a janela assim que se abre e ser ágil.”
A Arábia Saudita colocou uma operação de US$ 7,5 bilhões na segunda semana de janeiro. Em 2018, a primeira operação do reino saiu em abril. Uruguai e Filipinas também estão mais adiantados nas emissões de dívidas do que no ano passado. O México usou o momento para testar o sentimento dos investidores em relação ao novo governo do presidente Andrés Manuel López Obrador e a Colômbia anunciou uma captação nesta quarta-feira.
Spreads em queda
O apetite por risco aliviou os custos de captação. O spread médio para títulos de dívida externa emitidos por governos de países emergentes encolheu para 370 pontos-base, vindo de 420 no início do ano. Ainda assim, é mais do que o spread de 260 pontos-base observado no começo de 2018, quando os mercados ainda não tinham sido abalados pela alta de juros nos EUA, tensão comercial com a China e instabilidade política global.
As emissões soberanas ainda estão 43 por cento abaixo do registrado na mesma época de 2018, que foi o início de ano mais agitado até hoje, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. O volume foi amplificado pela Argentina, que colocou uma gigantesca operação de US$ 9 bilhões e agora está ausente do mercado, após receber a maior linha de regate já estendida pelo FMI. Omã, que levantou US$ 6,5 bilhões em janeiro do ano passado e planeja colocar US$ 6,2 bilhões em dívida externa e interna neste ano, ainda não apareceu no mercado.
“O mercado começou o ano bem mais forte do que se esperava e foi surpreendido incialmente, então isso abre espaço para novas ofertas”, disse Anders Faergemann, gestor de fundos em Londres da PineBridge Investments, que supervisiona US$ 90 bilhões. “Há mais colocações a caminho e esperamos uma variedade de emissores – tanto os frequentes quanto alguns mais oportunistas.”
O Morgan Stanley recentemente elevou a recomendação para dívidas soberanas de países emergentes, afirmando que os preços baratos viabilizam uma projeção de “retorno otimista” neste ano. Para a NN Investment Partners, esse retorno pode chegar a 5 ou 10 por cento e até passar disso no caso de dívidas emitidas pelos chamados “frontier markets”.
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