Por Simone Iglesias, Raymond Colitt e Mario Sergio Lima.
Os filhos do presidente Jair Bolsonaro deveriam parar de gerar crises com potencial de dano ao governo, disse o vice-presidente Hamilton Mourão, em meio ao embate que envolve o ministro Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral) e Carlos Bolsonaro. Em entrevista à Bloomberg na noite de quinta-feira, Mourão ponderou que as discussões protagonizadas pelo clã nas redes sociais são ruins, mas ainda não afetaram a imagem do governo.
“Diz a velha prática que roupa suja a gente lava no tanque da casa e não da casa dos outros. Esta crise está ligada às denúncias em relação aos gastos de campanha do PSL e a um certo protagonismo do filho do presidente que, no afã de defender o pai, interferiu levando as discussões e debates em rede social que acabam sendo de domínio público, o que não é bom”, disse.
Denúncias de financiamento irregular de campanha envolvendo Gustavo Bebianno, que presidiu o PSL durante a corrida eleitoral, causaram um racha entre a família do presidente, amigos e aliados, o que incluiu um tweet de seu filho Carlos chamando o ministro de “mentiroso”.
O escândalo, o segundo envolvendo um dos filhos do presidente desde que ele assumiu o cargo em 1º de janeiro, é o mais recente sinal de crescente rivalidade no núcleo do poder e surge em momento inoportuno. O governo enviará ao Congresso, na próxima semana, a proposta de reforma da Previdência, que precisa de ampla maioria para ser aprovada e é vista como o divisor de águas do sucesso ou insucesso de Bolsonaro.
Apesar da turbulência, Mourão disse acreditar que o governo retomará a normalidade, com o retorno de Bolsonaro a Brasília, depois de 17 dias internado em hospital em São Paulo.
“Por enquanto, vejo um impacto muito limitado. Com a volta do presidente, as coisas começam a voltar ao normal e essas ‘futriquinhas’ vão ficar pelo caminho.”
Como vários outros ministros, Mourão tem pouca experiência em política, mas o general de 65 anos vem sendo apontado por muitos em Brasília como uma força moderadora aberta ao diálogo e menos dogmática do que o presidente em questões, por exemplo, relacionadas aos homossexuais e às mulheres. Para espanto dos bolsonaristas, o vice defendeu há alguns dias que o aborto seja uma opção da mulher. Tanto assim que Olavo de Carvalho, talvez o mais influente dos gurus políticos e conselheiros de Bolsonaro, acusou Mourão de traidor via Twitter.
“Não dou bola para isso, deixa para lá. Vivemos muito bem eu e ele (Bolsonaro). Não entendo por que se procurou prosperar isso; se você for analisar as coisas, o procedimento de ambos é normal a um presidente e a um vice”, afirmou.
A parte mais difícil do trabalho é lidar “com todas as nuances, as pressões internas e externas”, disse Mourão, que se levanta todas as manhãs às 5:15 e corre de 6 a 7 quilômetros antes de ir para o gabinete e manter uma agenda diária de cerca de dez horas, entre reuniões com políticos, empresários, embaixadores, sindicalistas e outros.
“A política é a arte do diálogo. Uma vez que entrei na política, tenho por dever me portar dessa maneira.”
Gustavo Bebbiano, em nota distribuída à imprensa na noite de quinta-feira, negou acusações de financiamento irregular de campanha e disse não ser responsável pela definição de candidaturas que teriam sido beneficiadas por recursos oriundos do PSL Nacional.
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