Por Isis Almeida e Fabiana Batista.
As maiores tradings de açúcar do mundo estão recorrendo aos algoritmos para tentar lidar melhor com a influência crescente dos fundos que monitoram tendências em vez de analisar os fundamentos do mercado.
A gigante brasileira do açúcar Raízen e a francesa Sucres et Denrées formaram parcerias para desenvolver modelos que ajudarão a prever oscilações de preços. A Alvean, a maior trading de açúcar, a Louis Dreyfus e a ED&F Man Holdings optaram por contratar traders quantitativos para desenvolver soluções internas.
Lidando com preços e margens deprimidos, as tradings procuram avançar em mercados cada vez mais influenciados por negociações automatizadas e de alta velocidade. Entender o que impulsiona os chamados fundos sistemáticos pode ser fundamental nesta temporada e na próxima, quando fatores externos como as oscilações cambiais e do petróleo poderão ter um impacto maior no mercado bastante equilibrado do açúcar.
“O envolvimento de traders sistemáticos com o açúcar é realmente interessante”, disse Tracey Allen, analista do JPMorgan em Londres, em entrevista. “No açúcar é possível se concentrar de verdade nos fundamentos, mas ainda há uma grande proporção de investidores que estão seguindo a tendência dos preços.”
A Raízen contratou a QuantumBlack, uma empresa controlada pela McKinsey, para desenvolver um algoritmo que deverá ficar pronto em cerca de um ano, disseram pessoas a par do assunto em fevereiro. Além de dados de mercado mais amplos, a análise incluirá dados históricos dos 860.000 hectares de cana da Raízen para ajudar a prever mudanças na oferta.
A Sucres et Denrées está trabalhando com um terceiro para testar modelos que incorporariam alguns dados proprietários, incluindo projeções de oferta e demanda, bem como números de fluxo de comércio, disse Thierry Songeur, diretor-gerente da firma com sede em Paris. A parceria começou há cerca de seis meses e os modelos ajudariam a Sucden a obter alguns dos mesmos sinais de compra e venda usados por muitos fundos que monitoram tendências, disse ele, que preferiu não identificar o parceiro.
“A ideia é ver se há espaço para desenvolver algo do tipo com recursos que estejam mais alinhados ao tamanho do mercado do açúcar”, disse Songeur, em entrevista no mês passado, em Dubai. “Muitos fundos estão fazendo isso, mas em escala muito maior.”
A Alvean, uma joint venture da Cargill com a produtora brasileira Copersucar, contratou Olivier Pairault, do fundo de hedge Andurand Capital Management, e Garen Bakalian, que trabalhava na petroleira italiana Eni, para impulsionar suas estratégias de trading quantitativo, segundo uma pessoa a par do assunto que pediu para não ser identificada porque a informação é privada.
A Louis Dreyfus trouxe há cerca de um ano o cientista de dados Charlie Quaradeghini da Engelhart Commodities Trading Partners, ou ECTP, segundo pessoas a par da contratação. A ED&F Man está no meio do processo de aumento da capacidade de análise de dados quantitativos para alavancar seus dados proprietários, incluindo fundamentos e preços físicos, disse a chefe de pesquisa Kona Haque.
“O objetivo é ajudar na tomada de decisões comerciais e aproveitar a enorme quantidade de dados que geramos”, disse ela, em entrevista, em Dubai.
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