Por Gerson Freitas Jr. e Rachel Gamarski.
Se os primeiros meses do governo do presidente Jair Bolsonaro foram marcados por polêmicas e disputas internas em meio à escassez de indicadores positivos na economia, um ministro tem se destacado como uma notável exceção.
Tarcísio de Freitas, o engenheiro militar que comanda o ministério da Infraestrutura, tem se firmado na Esplanada como um portador solitário de boas notícias, ajudando o ministro da Economia, Paulo Guedes, a avançar na agenda de redução do Estado como parte dos esforços para restaurar as contas públicas.
O ministro recentemente concluiu a concessão de 23 ativos, entre aeroportos, terminais portuários e uma grande ferrovia, assegurando a arrecadação de R$ 8 bilhões para os cofres do governo. Trata-se de um recurso precioso para um país que tenta de todas as formas atrair investimentos privados para revitalizar uma economia que ainda rasteja após anos de recessão, em meio a um desemprego elevado e incerteza persistente. Freitas, 43, agora se prepara para uma nova rodada de concessões, que incluirá seis portos, 22 aeroportos e 14,5 mil quilômetros em rodovias.
Tendo ocupado cargos de menor expressão nas gestões Dilma Rousseff e Michel Temer, Freitas é descrito como um ministro técnico, trabalhador e com senso de urgência para resolver problemas. O ministro também é visto como um negociador habilidoso, com profundo conhecimento da burocracia estatal. Trata-se de um diferencial no ministério de Bolsonaro, composto por vários nomes sem experiência política ou na administração pública.
“Pergunte a ele sobre qualquer lugar no Brasil. Ele esteve lá, conhece fisicamente”, diz Marcos Lutz, presidente da Cosan. “Ele tem feito as coisas com rapidez e assertividade, mobiliza quem quer que seja para fazer as coisas da agenda dele acontecerem.”
À semelhança de Bolsonaro, Freitas é um ex-capitão do Exército, tendo participado da missão de paz da ONU no Haiti em meados dos anos 2000. Os dois também compartilham o apreço pelas redes sociais – seguir o ministro no Twitter ou no Instagram significa ser informado sobre todas as pontes restauradas, todas as reuniões com as autoridades, todas as viagens pelo país.
Em março, quando centenas de caminhões transportando soja ficaram atolados num trecho não pavimentado da BR-163, que cruza a região amazônica, Freitas voou para o estado do Pará para encontrar motoristas que esperavam na fila, enquanto o Exército trabalhava dia e noite para liberar a estrada. Um vídeo postado em sua conta no Instagram mostra o ministro discutindo com os caminhoneiros os detalhes da reabertura da estrada.
“Vamos trabalhar duro para que isso nunca mais aconteça”, diz Freitas, prometendo que a rodovia BR-163 será totalmente pavimentada no próximo ano, após décadas de negligência. “Essa estrada foi aberta pelo general Geisel”, uma referência ao ex-presidente Ernesto Geisel, que governou o Brasil durante a ditadura militar – “e será concluída pelo capitão Bolsonaro”. São frequentes as reverências ao presidente.
Freitas também emergiu como uma figura-chave em tempos de crise. Quando motoristas de caminhão começaram a protestar contra preços mais altos do diesel no mês passado, Freitas foi o escolhido por Bolsonaro para costurar um acordo que evitasse a reedição da paralisação que comprometeu a retomada da economia em 2018.
Freitas também tem defendido mudanças na legislação para atrair investimentos, incluindo a permissão para a construção de ferrovias privadas – medida que facilitaria a construção da Ferrogrão, uma nova rota para o transporte de soja pela região amazônica.
Os investidores estrangeiros estão “loucos para investir no Brasil”, mas esperam “um gesto” que assegure a solvência e a estabilidade da moeda, disse o ministro em uma conferência no mês passado. Freitas se referia à proposta de Bolsonaro de reforma da Previdência, sobre a qual ele diz ter discutido com mais de 300 parlamentares. Os investidores veem a reforma como fundamental para restaurar a confiança no País.
Embora as elogiadas concessões de infraestrutura deste ano já estivessem em andamento desde o governo passado, Freitas tem sido um dos poucos membros da equipe de Bolsonaro capazes de fazer avançar a sua agenda. Mais do que isso, o ministro tem conseguido se esquivar das controvérsias e batalhas culturais que marcaram o governo até agora, disse Claudio Couto, professor de ciência política da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo.
“É como diz o ditado: em terra de cego, quem tem olho é rei”, disse Couto. “Em um governo tão confuso e com tantas pessoas não qualificadas e ideológicas, ele se destaca”.