Por Felipe Saturnino e Josue Leonel.
O Banco Central deve se juntar ao movimento global de alívio monetário e reduzir a Selic na reunião desta quarta-feira. A inflação abaixo da meta, a fraqueza da atividade econômica e a aprovação da reforma da Previdência em 1º turno na Câmara dos Deputados abrem espaço para o primeiro corte desde março de 2018. As dúvidas, entretanto, recaem sobre o tamanho da dose na primeira alteração de juros da gestão Roberto Campos Neto e sobre a extensão do ciclo.
A curva de juros mostra que as apostas do mercado moveram-se nas últimas semanas rumo ao corte de meio ponto percentual, para 6%. Da mesma forma, ex-dirigentes do BC defendem essa postura mais agressiva, como o ex-presidente Affonso Pastore, e os ex-diretores Luiz Fernando Figueiredo, da Mauá Capital, e Mario Mesquita, do Itaú. Bank of America Merrill Lynch vai mais longe e prevê a Selic a 4,75% no final do ano.
Os economistas, no entanto, estão divididos. Levantamento da Bloomberg com 31 casas até o momento mostra 16 projeções de corte de 0,25pp, 12 analistas que esperam corte de 0,50pp e outros três que ainda veem a Selic mantida em 6,5% ao ano.
A última vez que o BC começou um ciclo de quedas com 0,50 pp foi em 2011. Agora, os números que justificariam um corte maior são as projeções do IPCA abaixo da meta tanto em 2019 como em 2020 e a estimativa de crescimento de apenas 0,82% do PIB neste ano, segundo a Focus.
Susto com o BCE
A reversão de expectativas sobre o Banco Central Europeu na semana passada, no entanto, levantou dúvidas sobre a ampla perspectiva de que os bancos centrais atuariam de forma mais incisiva para reverter o quadro de desaceleração global. O presidente do BCE, Mario Draghi, se mostrou menos dovish que o esperado e afirmou que não foi discutido um corte de juros na última reunião, algo que o mercado esperava para setembro.
Parte dessa frustração se transformou em cautela para a decisão do Fed dos EUA, que se reúne no mesmo dia do Copom, na quarta-feira. Ainda assim, investidores ainda esperam corte de juros nos EUA e vários outros BCs já baixaram as taxas recentemente, incluindo os da Turquia, com a maior dose de corte em 17 anos, de 4,25 pp, Coreia do Sul, Indonésia, África do Sul e Austrália.
“Ação e sinalização de outros BCs no mundo, como Fed e BCE, indicam juro neutro internacional ainda mais baixo, influenciando a estimativa de juro neutro aqui”, diz Mauricio Oreng, estrategista-sênior para Brasil do Rabobank.
O Rabobank revisou a previsão de dose de alívio de 0,25 pp para 0,50 pp, dado que a inflação bem comportada e a expectativa do mercado tornam o “risco a uma ação mais imediata muito baixo ou nulo”.
Gustavo Rangel, economista-chefe para América Latina do ING Financial Markets, espera três cortes de 0,50 pp cada, o que levaria a Selic para 5% no fim do ano, patamar onde deve permanecer durante 2020. “Há muito espaço para a economia crescer sem gerar pressão inflacionária, e por isso a normalização não aconteceria tão rápido.”
Prudência
Em contrapartida, outros economistas avaliam que uma flexibilização moderada é a melhor opção para dar início ao ciclo de cortes.
Considerando a prudência do discurso do BC e a possibilidade de desidratação da reforma da Previdência, uma redução de 0,25 pp é o mais recomendado, diz Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs. “Quanto mais tempo demora a aprovação da reforma, mais há risco de algum choque político interferir no processo.”
A atividade econômica tem peso fundamental e o mais provável é que o BC inicie o ciclo de corte de maneira cautelosa, com -0,25 pp, já que não há dados suficientes para avaliar o impacto da reforma da Previdência e a liberação do FGTS na economia, diz Leandro Negrão, economista do Bradesco.
Se optar por um corte maior, o BC pode levar o mercado a precificar um alívio total de 1,50 pp, afirma Roberto Secemski, economista para Brasil do Barclays, que espera -0,25pp. “Não há espaço para um ciclo desse tamanho atualmente“, diz ele, ao considerar as projeções de inflação.