Por Josue Leonel.
A ideia de que a escalada do dólar veio para ficar está se enfraquecendo após um conjunto de indicadores sinalizar riscos para a economia dos Estados Unidos e elevar as chances de um corte dos juros pelo Fed.
Além disso, aqui no Brasil, a expectativa de fluxo com a cessão onerosa de petróleo e ofertas de ações criam a perspectiva de reversão do fluxo cambial, que foi amplamente negativo até setembro. O movimento chega com a reforma da Previdência na reta final e alguns indícios de melhora da economia brasileira, que ainda enfrenta desafios.
Após se aproximar de R$ 4,20 no dia 25 de setembro, em meio a incertezas com a guerra comercial e o calendário da reforma da Previdência, o dólar entrou em queda livre nesta semana e rompeu os R$ 4,09 na quinta-feira.
O movimento de baixa começou a se ampliar na terça-feira, quando o índice ISM do setor industrial nos EUA caiu mais que o esperado, ao menor nível em 10 anos. Hoje, foi a vez de o ISM do setor de serviços decepcionar.
Os últimos dados alteram a tendência anterior, quando os números americanos, mais fortes do que em outras regiões do mundo, mantinham o dólar valorizado ante a maioria das demais moedas. O cenário, agora, parece ser de “dados mais fracos e dólar mais fraco”, diz Georgette Boele, estrategista de câmbio do ABN Amro.
Cresce, portanto, a expectativa para o relatório de emprego, que sai nesta sexta-feira.
A demanda menor pelo dólar também pode refletir sinais de normalização do fluxo cambial. A falta de dólar no mercado à vista fez o Banco Central lançar o programa de venda de reservas conjugado com swaps reversos. Hoje, o BC colocou menos dólar do que o volume ofertado no leilão.
“Tudo aponta para um dólar mais baixo”, disse Silvio Campos Neto, economista e sócio da Tendências Consultoria Integrada. Ele cita os sinais de melhora da economia, como a produção industrial acima do previsto em agosto, e a expectativa de fluxo do leilão da cessão onerosa, programado para 6 de novembro, e pelas novas ofertas de ações das empresas.
Sergio Zanini, sócio-fundador da Sagmo Capital, diz que as remessas de empresas vinham ajudando a tornar o fluxo negativo, mas este movimento parece estar terminando, o que deixa o câmbio menos pressionado. Para ele, um fator que poderia levar o dólar a cair abaixo de R$ 4,00 seria uma trégua na guerra comercial entre EUA e China.
Georgette Boele, do ABN, prevê que o dólar deve seguir em baixa até o final do ano, fechando em torno de R$ 4,00. Para o real se valorizar ainda mais, a estrategista diz que a economia brasileira precisa seguir se recuperando, ainda que gradualmente, o que deverá ser um desafio em um cenário externo mais desafiador.