Bancos implantam táticas de crédito privado na disputa por financiamento de M&A

Artigo escrito por Eleanor Duncan e Silas Brown. Exibido antes no Terminal Bloomberg.

Preços baixos. Subscrição arriscada. Credores tradicionais estão fazendo de tudo para fechar acordos de financiamento de M&A (fusões e aquisições). E agora eles estão com demanda para fornecer empréstimos a prazo com saque deferido (DDTL, na sigla em inglês), o que antes era comum apenas em negócios de crédito privado.

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Os DDTLs permitem que os devedores saquem um valor adicional predefinido que pode ser utilizado após o recebimento inicial de um financiamento. Estes empréstimos chamam a atenção das empresas de private equity porque são baratos no momento da emissão e servem como uma carta na manga caso os gestores encontrem um ativo atraente. Os empréstimos têm sido considerados como uma das principais armas do crédito privado, mas os banqueiros dizem que os credores tradicionais estão aderindo cada vez mais a essa forma de financiamento complexa.

Em fevereiro, quando bancos como o Barclays Plc e o Citigroup Inc. subscreveram um pacote de dívida de € 920 milhões (US$ 1 bilhão) pela compra da participação majoritária da Bain Capital na empresa sueca de infraestrutura e serviços Eleda, eles incluíram um DDTL de € 153 milhões para melhorar o negócio. E nos EUA, onde os DDTLs são mais comuns do que na Europa, o private equity que comprou a fabricante de grama sintética TenCate conseguiu um DDTL de US$ 150 milhões como parte de seu negócio recente.

Os banqueiros dizem que ainda há mais por vir. As empresas de private equity estão cada vez mais procurando os bancos para financiar aquisições alavancadas porque é mais barato, mas elas também querem algumas das vantagens que conseguiriam no mercado de crédito privado, disseram algumas fontes familiarizadas com o assunto.

“Temos visto que os gestores de private equity vêm favorecendo a dívida bancária subscrita em vez das soluções de crédito privado nos últimos meses”, disse Peter Dahlen, codiretor global de finanças alavancadas do escritório de advocacia Clifford Chance. “Embora o preço da dívida seja um fator crucial, a capacidade de conseguir dívidas subscritas não sacadas ou DDTLs no mercado sindicalizado pode ajudar nesse direcionamento”.

Isso vem após alguns anos turbulentos para os credores tradicionais, quando o aumento das taxas e a volatilidade do mercado fizeram com que eles perdessem espaço para as empresas de crédito privado. Agora, eles estão sedentos para voltar com seus lucrativos negócios de financiamento de aquisições. Mas com a escassez de M&A, os bancos estão cada vez mais dispostos a oferecer concessões aos devedores, com os DDTLs sendo incluídos em opções como pagamentos sem ser em espécie — que permitem que os pagamentos de juros sejam diferidos — e as chamadas pré-capitalizações para empresas que ainda nem estão à venda.

Com o mercado de empréstimos amplamente sindicalizado voltando a crescer, fica mais fácil para os bancos venderem dívidas, e isso pode dar a eles mais confiança para oferecer acordos de financiamento mais arriscados ou incomuns. Mas o impulso vem principalmente de empresas de private equity, segundo os banqueiros. Com uma concorrência tão alta sobre os contratos, eles veem uma oportunidade para conseguir condições atraentes, além de garantir no presente o financiamento de aquisições futuras, caso o cenário tome outro rumo no futuro.

“Do ponto de vista mais amplo das finanças alavancadas, a tendência é indicativa do fato de que os contratos agora estão muito bons. As pessoas temem com o fim desta oportunidade e querem garantir o preço atual”, disse Giacomo Reali, sócio de alto rendimento da Linklaters LLP. “É uma forma de pré-reservar o uso futuro do capital ao preço atual”.
Apesar disso, é improvável que os DDTLs se tornem uma parte principal dos acordos de financiamento bancário.

É difícil para os credores manter empréstimos não sacados em seus balanços, mas também pode ser complicado distribuí-los para o mercado, porque as obrigações de empréstimo com garantia (CLOs, na sigla em inglês) — os maiores compradores de empréstimos alavancados — geralmente precisam receber juros imediatamente para viabilizar suas operações. Os DDTLs geralmente têm taxas sobre a parte não sacada, mas pode demorar algum tempo para que estas taxas entrem em vigor.

CLOs na Europa também costumam ser impedidos de manter mais de 5% de suas portfólios em DDTLs, e precisam desembolsar o caixa antecipadamente para eles. Ainda assim, um aumento na emissão de CLOs este ano — e a pressa de preencher os novos portfólios com empréstimos — significa que os gestores de CLOs estão cada vez mais dispostos a comprar DDTLs, como os da Eleda.

Também é difícil para os bancos competir em tamanho. Os credores tradicionais têm que vender DDTLs como um lote junto com um empréstimo de termo B financiado, com banqueiros dizendo que um DDTL equivalente a 20% da parte sindicalizada publicamente já seria bastante epressivo.

Por outro lado, credores diretos não precisam reservar o capital para DDTLs e estão dispostos a oferecer valores altos para as empresas que desejam emprestar. Em dezembro, um consórcio de credores, incluindo a Blackstone Inc., forneceu um DDTL de € 275 milhões, além de um empréstimo unitranche de € 675 milhões, como parte do pacote de financiamento para a aquisição de uma corretora de seguros alemã pela Permira.

Mas esta tendência, ainda assim, contribui para o cenário dos bancos tradicionais lutando contra as empresas de crédito privado da forma que puderem para conquistar os negócios.

“É uma questão de estar em um bom mercado com muito apetite dos bancos para subscrever e aumentar os níveis de atividade”, disse Reali da Linklaters.

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